O antropólogo Darcy Ribeiro (1913-1997) foi um dos maiores intelectuais brasileiros do século XX. Esses vídeos mostram os programas da série baseada na obra central de Darcy: O Povo Brasileiro, em que o autor responde à questão "quem são os brasileiros?", investigando a formação do nosso povo.
Co-produzida pela TV Cultura, a GNT e a Fundar, a série conta com a participação de Chico Buarque, Tom Zé, Antônio Cândido, Aziz Ab´Saber, Paulo Vanzolini, Gilberto Gil, Hermano Vianna, entre outras personalidades.
O Povo Brasileiro é uma recriação da narrativa de Darcy Ribeiro, e discute a formação dos brasileiros, sua origem mestiça e a singularidade do sincretismo cultural que dela resultou. Com imagens captadas em todo o Brasil, material de arquivo raro e depoimentos, a série é um programa indispensável para educadores, estudantes e todos os interessados em conhecer um pouco mais sobre o nosso país.
Capitulo 01- Matriz Tupi
- Este primeiro vídeo da série – “Matriz Tupi” – é totalmente dedicado aos povos indígenas que habitavam o Brasil antes da invasão europeia. Tem cenas históricas, filmadas em preto e branco durante meses de permanência de Darcy entre os Kayapó, em 1950, e depoimentos de Azis Ab’Saber e Washington Novaes. Toda a série é comentada por Darcy e narrada por Chico Buarque.
- No documentário que abre a série, Darcy Ribeiro pergunta: "Antes do Brasil existir, como podia existir o mundo? O Brasil nasce sob o signo da Utopia." O programa reconstrói o universo dos povos Tupi antes da chegada dos portugueses: a organização das aldeias, o sistema de crenças, a antropofagia, as práticas agrícolas, as guerras e as festas. Foi construído com imagens de povos indígenas brasileiros extraídas de dezenas de arquivos brasileiros e estrangeiros, captadas em película e vídeo durante o século XX.
- Contém cenas filmadas por Darcy Ribeiro e Franz Forthman entre os Urubu-kaapor, em 1950. Contém imagens dos originais dos diários escritos por Darcy Ribeiro em sua longa convivência com povos indígenas, bem como documentos e desenhos dos séculos XI e XII, entre outros.
- Exemplares de objetos indígenas foram filmados para o programa em museus e acervos brasileiros. Depoimentos de Azis Ab'Saber e Washington Novaes
Capitulo 01 - Matriz Tupi - O Povo Brasileiro (Os índios)
Capítulo 2 – “Matriz Lusa”
- A maioria de nós cresceu ouvindo “piadas de português”, normalmente mostrados como pouco inteligentes e incultos. Quantas vezes não ouvimos, inclusive, comentários de pessoas tidas como cultas, até mesmo professores, lamentando termos sido “descobertos” por eles, e não por outros europeus, “de origem mais culta e refinada”! Será que já paramos para pensar quanto de preconceito e racismo (bem semelhante ao que combatemos em relação aos Nordestinos, entre nós) há nisso tudo? E – como nos mostra esta “Matriz Lusa” – quanto de ignorância!?
- Neste segundo capítulo de O Povo Brasileiro, a importância maior é exatamente a descoberta que podemos fazer de Portugal, com seu justo valor e medida. Com sua cultura muito mais moura e judaica que latina, mas acima de tudo ela própria miscigenada, como Darcy nos mostra, e com sua capacidade de, encurralados entre os castelhanos e o oceano, conseguirem transformar isso num desafio para desbravar o mundo.
- Aí vai, pois pois, “Matriz Lusa”, com narração de Matheus Nachtergaele e Chico Buarque; depoimentos de intelectuais portugueses como Agostinho da Silva, de Judith Cortesão e Roberto Pinho; e, ainda, a participação de Tom Zé e Gilberto Gil, declamando e cantando Camões e Fernando Pessoa. Uma excelente chance, repito, de não só aprendermos, como de descobrirmos que racismo e preconceito podem ter facetas inesperadas.
- "Esse navio, essa criação, é mais importante que uma nau, dessas espaciais..." Assim Darcy Ribeiro fala das caravelas que permitiram aos portugueses dar início à globalização do planeta. O segundo documentário da série reconstrói o sofisticado universo dos portugueses às vésperas das viagens de exploração das fronteiras do Desconhecido.
- O programa contém imagens de Portugal pesquisadas na Cinemateca Portuguesa e em outros acervos europeus. Contém vasta iconografia referente às influências árabe e israelita que marcaram a Península Ibérica, assim como imagens inéditas das festas do Espírito Santo, nos Açores e no Maranhão.
- Tom Zé fala trechos de poemas de Fernando Pessoa. Gilberto Gil canta "Prece", também de Pessoa. Depoimentos do grande pensador português Agostinho da Silva, de Judith Cortesão e Roberto Pinho.
Capitulo 02 - Matriz Lusa- O Povo Brasileiro (Os portugueses)
Capítulo 3 – “Matriz Afro”
- A África é o cenário da maior parte deste capítulo 3 de “O Povo Brasileiro”. O documentário nos mostra como era a vida, lá, dos primeiros povos a serem trazidos para o Brasil, provenientes de Angola e do Congo, com suas culturas, sua ligação com o territórios, seus cultos ancestrais, comentados por Carlos Serrano. O século XVIII abrirá uma nova rota, agora a partir do Golfo de Benin. É ela que traz para Salvador, Recife e São Luís do Maranhão, os Nagô, com seus Orixás, e os Jeje, com seus Voduns. Em número menor mas com uma peculiaridade extremamente importante, virão também os Haussá, formados e alfabetizados na cultura árabe e adeptos do islamismo. A eles deveremos a importante Revolta dos Malês, como eram aqui conhecidos.
- Já no Brasil, Mãe Filhinha e Mãe Estela falam sobre a herança da África em termos de religiosidade. Gilberto Gil participa cantando e lendo poemas africanos, e François Neyt, da Universidade Louvain-la-Neuve, Bélgica, comenta o lado artístico desses povos da África, ao mesmo tempo em que é mostrada uma variedade de objetos, esculturas, fotos e pinturas que justificam e comprovam a fala final de Chico Buarque: “o negro vem a ser o componente mais criativo da cultura brasileira”.
- "Toda a cultura brasileira está impregnada da herança africana. Sua presença fez quase tudo o que aqui se fez", diz Darcy Ribeiro neste programa que fala do conjunto das culturas negroafricanas que estão na base de nossa formação. O documentário nos faz conhecer a força, o requinte e a sofisticação dos bantos, haussás, jejes e yorubás que atravessaram o Atlântico no maior movimento de migração compulsória de que se tem notícia.
- O programa foi construído com imagens de arquivo pesquisadas em cinematecas e museus variados, bem como com o registro de vasta e variada iconografia (fotos de Pierre Verger e outros).
- Contém imagens de peças africanas pertencentes a importantes colecionadores, filmadas na Bélgica. Depoimentos de Mãe Estela, do antropólogo Carlos Serrano e do etnólogo François Neyt, da Universidade Louvain-la-Neuve, da Bélgica. Participação especial de Gilberto Gil que canta e lê poemas africanos recriados por Antonio Risério.
Capitulo 03 - Matriz Afro - Povo Brasileiro (Os negros)
Capítulo 4 – “Encontros e Desencontros”
- No capítulo 4 de “O Povo Brasileiro”, as três matrizes se encontram, no que Darcy chama de uma cultura de retalhos, sementeira cultural de gentes, fusão genética e espiritual “que nos plasmou como povo mestiço, herdeiros de todas as taras e talentos da humanidade” .
- No primeiro ato, portugueses, índios e índias. Para os homens, o trabalho, o aprendizado do primeiro desmatamento, na troca de pau brasil por espelhos e missangas. Para as mulheres, o sexo e a produção de crianças condenadas ao que Darcy chama de “ninguendade”. Nem índios, nem portugueses, entregues à catequese que mistura crianças de diferentes povos, de diferentes línguas, forçando-os ao uso do português e à aculturação, para se submeterem. Genocídio, etnocídio e ainda uma verdadeira guerra biológica, que dizima, mata.
- No segundo ato, o escambo se transforma em escravidão. E agora já não será mais Caramuru com suas 30 mulheres, mas o estupro claro e impiedoso, produzindo novas forças de trabalho e novas meninas a serem violentadas. No trecho de “Benguelê, do Grupo Corpo, o movimento repetitivo e cansado, atravessando o palco, expressa melhor que nada a violência da submissão pelo cansaço.
- Neste documentário, Darcy Ribeiro reflete sobre os encontros e desencontros, no território hoje brasileiro, das nossas três grandes matrizes, e do início da aventura chamada Brasil. "Povo novo é como o Brasil, é um gênero novo. Um povo mestiço na carne e no espírito e, como tal, herdeiro de todas as taras e talentos da humanidade."
- O programa contém imagens originais captadas no Sul da Bahia. Imagens de danças populares filmadas pela "Missão de Pesquisas Folclóricas", de Mário de Andrade, em 1938. Trechos de filmes clássicos de Humberto Mauro. Trechos do Balet Benguelê, do Grupo Corpo.
- Textos de Gilberto Freyre, entre outros. Tom Zé fala trechos da Carta de Pero Vaz de Caminha e de texto de Miguel de Cervantes. Depoimento do antropólogo Antonio Risério.
Capitulo 04 - Encontros e Desencontros - Povo Brasileiro
Capítulo 5 – “Brasil Crioulo”
- “Brasil Crioulo” é dos mais belos capítulos, até o momento. E rico: de informações, de participações, de críticas. Fala dos 12 milhões de escravos trazidos da África, dos quais metade morreu, e dos seis milhões restantes. que fizeram a fortuna da aristocracia do açúcar, a riqueza (em todos os sentidos) do Brasil colonial, a beleza da cultura que, como ele diz, foi tão forte que conseguiu impor valores num processo de mestiçagem.
- Clementina não só nos dá sua receita de feijão, como canta, assim como Nelson Sargento e Cartola. Mãe Estela, Mãe Filhinha, o Babalaô Agenor Miranda da Rocha e Roberto Pinho dão seus depoimentos. Trechos de filmes, fotos e tradições entremeiam exemplos de uma cultura que se transformou e tomou conta dos mais diversos Brasis.
- Ao final, na voz de Chico Buarque, uma análise dura e até polêmica:
“Nenhum povo que passasse por tudo isso como sua rotina de vida através de séculos sairia dela sem ficar marcado indelevelmente. Todos nós, brasileiros, somos carne daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós, brasileiros, somos por igual a mão perversa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos. E a gente insensível e brutal que também somos”.
- Contrastando, a resposta tranquila de Mãe Estela: tudo isso “foi a forma de fazer os Orixás brilharem no novo mundo”!
- "Negro era como carvão; um saco de carvão acabou, você compra outro...", diz Darcy Ribeiro no início deste que é o primeiro dos cinco programas sobre os Brasis. O documentário põe em perspectiva a região cultural que ele chama de crioula - Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco, Maranhão, região fortemente marcada pela presença negra. Fala de sua opulência e decadência.
- Com filmagens realizadas em Salvador, no Recôncavo baiano, em Ouro Preto e Rio de Janeiro, o programa conta ainda com rico material fílmico - documentários e ficção - pesquisado em arquivos brasileiros: Nelson Pereira dos Santos, o Tambor de Mina filmado pela "Missão de Pesquisas Folclóricas", de Mário de Andrade, em 1939. Dorival Caymmi e Chico Science. Cartola e Nélson Sargento. Candomblé e funk. Clementina de Jesus e sua receita de feijoada.
- Desenhos de Carybé. Textos de Câmara Cascudo e Gilberto Freyre. Depoimentos de Gilberto Vasconcelos, Mãe Estela, do Babalaô Agenor Miranda da Rocha, de Mãe Filhinha, do antropólogo Roberto Pinho e de Luiz Melodia.
Capitulo 05 - Brasil Crioulo - Povo Brasileiro
Capítulo 6 – “Brasil Sertanejo”
- “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. A frase de Euclides da Cunha poderia bem ser a abertura deste capítulo 6, que no entanto é também muito bem iniciado por Guimarães Rosa. Rosa que permeará, junto com Roger Bastide, Josué de Castro e falas ao vivo de Paulo Vanzolini, Antônio Risério, Hermano Vianna e Ariano Suassuna, esta belíssima visão do Nordeste. Ou dos Nordestes: da cana, do gado, dos cangaceiros se opondo à violência dos coronéis, do sebastianismo, da riqueza das culturas, da terra rachada, dos animais mortos, da alegria do povo.
- Trechos de filmes diversos – de Vidas Secas a Deus e o Diabo na Terra do Sol – entremeiam imagens raras, fotos, filmagens em diferentes estados, cantos como os de Luiz Gonzaga e sua sanfona, os inevitáveis e coloridos forrós. E, pairando em meio a tudo isso, as gentes de um Brasil que na verdade é forte, por mais que tentem domá-lo, vendê-lo, destruí-lo. Vale ver!
- No documentário sobre mais esta região cultural do Brasil, Darcy Ribeiro comenta: "Qualquer vaqueiro sabe, de experiência própria, quanto contrastam as facilidades disponíveis para socorrer a um touro empestado com as dificuldades que encontra para medicar um filho enfermo".
- O programa contém imagens originais filmadas em Canudos, Uauá, Petrolina e São Paulo. Contém uma vasta coleção de imagens raras extraídas de arquivos diversos, entre as quais: Lampião e seu bando, Padre Cícero, Luiz Gonzaga e sua sanfona.
- Contém cenas escolhidas dos clássicos "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha, "Vidas Secas", de Nelson Pereira dos Santos, "Memórias do Cangaço", de Paulo Gil Soares, entre outros. Contém ainda vasta iconografia inédita retirada dos arquivos de Lina Bo Bardi
- Na música, além disso, temos a Banda Cabaçal e os Irmãos Aniceto, o forró dos índios Cariri e Mestre Ambrósio. Tom Zé canta Luiz Gonzaga. Textos de Guimarães Rosa, Roger Bastide e Euclides da Cunha pontuam o programa. Depoimentos de Paulo Vanzolini, Ariano Suassuna, Hermano Vianna, Antonio Risério.
Capitulo 06 - Brasil Sertanejo - Povo Brasileiro
Capítulo 7 – “Brasil Caipira”
- “Brasil Caipira” começa com uma breve citação de Oswald de Andrade, e é claro que seu comentarista principal só poderia ser uma pessoa: Antônio Cândido. Além de Darcy Ribeiro, obviamente, de Roberto Pinho e de trechos de Sérgio Buarque de Holanda, é ele que nos fala da mistura entre portugueses e índios inicial; dos bandeirantes abrindo caminho para o interior, as gerais e a febre do ouro; da posterior mistura com a matriz afro, acrescentando a Congada, o Moçambique e o Batuque a uma cultura já rica, mostrada em trechos de filmes e fotos de época.
- Se o ouro termina, quem fica ou vai para as cidades vira comerciante; quem permanece na zona rural é o caipira, mantendo inclusive muito da linguagem erudita do século XVII, como exemplifica Cândido com o vocábulo “pregunta”. Mas chegarão os anos 1950, com o “progresso” determinando o consumo. As feiras serão substituídas pelos supermercados; o artesanato, pelas fábricas. Os habitantes da área rural começarão a viver o processo de expulsão para as grandes cidades, para a degradação e a marginalização das periferias. Ao caipira, em particular, restará ainda ser apropriado e folclorizado pelos meios de comunicação de massa.
- O documentário investiga as origens e as transformações pelas quais passou o chamado "mundo caipira". Nele, Darcy Ribeiro fala sobre os bandeirantes, a caça aos índios e ao ouro, o surgimento e a descaracterização de mais essa região cultural brasileira. O programa contém imagens originais captadas no Sul de Minas, em Ouro Preto e em São Paulo.
- Contém imagens da Congada e do Moçambique, danças populares do mundo caipira, filmadas em 1935 por T. Lévi-Strauss. O Jeca Tatu e o Caipiródromo. As influências das matrizes portuguesa e negra. O Rei do Gado. A industrialização e a urbanização. Tom Zé declama Oswald de Andrade. Trechos de textos de Sérgio Buarque de Holanda pontuam o programa. Depoimentos de Antonio Cândido e Roberto Pinho.
Capitulo 07 - Brasil Crioulo - Povo Brasileiro
Capítulo 8 – “Brasil Sulino”
- O “Brasil Sulino” se inicia com o encontro dos jesuítas com os povos indígenas, na busca da “Terra sem Males”, que acabaria se transformando nas Missões. A crítica de Judith Cortesão é dura e correta: para juntar a conquista espiritual à territorial, constrói-se uma das mais violentas estratégias de lavagem cerebral, desestruturando totalmente a cultura e as tradições indígenas, a ponto de torná-los incapazes até mesmo de se defenderem. Desses índios desaculturados, do gado espanhol que prolifera pelos pampas, dos brancos pobres que irão “tocá-lo” sairá o que hoje seria um peão: o gaúcho, sem fronteiras, caminhando para onde o gado o leva.
- Novas levas de migrantes chegarão com novas culturas: os açorianos; os portugueses do Norte, que trarão para o Sul do Brasil a tradição dos “faxinais”, de origem Celta. Pouco a pouco, na medida em que caminham desbravando novos pastos, os gaúchos serão substituídos pelos negros. Finalmente, será a vez dos italianos, alemães e poloneses, muitos até hoje arredios à tradição de miscigenação que demarca a história do País. É o que Darcy chama, jocosamente, de “a gringalhada que caiu lá como uma onda”. Em meio a tudo isso, Lupicínio Rodrigues e a gravação feita por Marcus Pereira, na Coleção da Região Sul, do “Boi Barroso” tocado pelo velho Mondadori.
- Neste documentário, Darcy Ribeiro nos fala não de um, mas de três brasis sulinos: o dos índios guaranis e das Missões Jesuíticas, que geraram os gaúchos; "o dos ilhenhos, que Portugal mandou buscar para pôr uma presença portuguesa lá. E dos gringos, a gringalhada que caiu lá, como uma onda".
- Com imagens captadas no Rio Grande do Sul (nos Pampas, em Porto Alegre e na Serra Gaúcha), imagens de arquivo das Missões e dos Açores, e iconografia muito variada, o programa desvenda um Sul pouco conhecido: sul de negros que cultuam orixás, Sul dos Sem-Terra, dos gaúchos-à-pé.
- O velho Mondadori toca o "Boi Barroso". Lupcínio Rodrigues canta. Depoimentos de Judith Cortesão e de Eduardo Gianetti.
Capitulo 08 - Brasil Sulino - Povo Brasileiro
Capítulo 9 – “Brasil Caboclo”
- Nada mais atual do que ver este “Brasil Caboclo”, e nada mais revoltante do que pensar que aquela Amazônia que Darcy em 1995 chamava de “Jardim da Terra” e que aquelas imagens de 2005 (sem contar as anteriores, algumas em preto e branco) cada vez mais estão sendo destruídas, rasgadas e estupradas, em nome do “desenvolvimento”. De um maldito “desenvolvimento” que na verdade se iniciou durante a ditadura militar, quando a Amazônia começou a ser cortada por estradas e loteada para grupos internacionais, expulsando povos indígenas e comunidades tradicionais.
- Os depoimentos de Azis Ab’Saber, Márcio de Souza e Paulo Vanzolini nos contam como os diversos povos indígenas iniciais foram sumariamente misturados pelos jesuítas obrigados, lá também, a adotar o Tupi com língua geral; como os poucos brancos e negros a eles se misturariam; como esse mosaico de flora, fauna e mitos receberia depois os cearenses, que seriam totalmente assimilados, acabando de formar assim os caboclos. Amazônia dos totais extremos: até 1880, um “país” onde a língua falada era o Tupi; em seguida, a explosão da borracha e a formação de uma elite que era mais europeia que brasileira; depois, a falência, o abandono dos palácios, a miséria, a falta de luz elétrica até 1955 nas outrora grandes capitais. Amazônia onde as imagens mostram caboclas produzindo placas de computadores, enquanto índias fabricam tecidos no tear.
- Das mortes, fora o genocídio indígena, a única mencionada é a de Chico Mendes. Iza Grispum também estava longe de adivinhar, em 2005, quantas e quantos a ele se juntariam e continuam ainda a “ser juntados”, nas mortes encomendadas por madeireiros, garimpeiros, fazendeiros, mineiros, seus asseclas e patrões, enquanto o capital estende cada vez mais seus tentáculos. Inclusive José Cláudio e Maria, homenageados no nome do canal de onde estamos linkando estes vídeos.
- Afinal, a Amazônia supostamente abrigava o Eldorado! Hoje ela é acima de tudo um campo de luta!
- "A Amazônia é o Jardim da Terra". Assim Darcy Ribeiro abre o programa convidando-nos a conhecer e a compreender melhor a formação e as características desse outro mundo, que é o caboclo. Mundo dos índios, das águas e do microship. De Chico Mendes e da Zona Franca de Manaus. Com imagens originais captadas no Amazonas, o programa contém belíssimas imagens antigas de índios brasileiros, de seringueiros e castanheiros. A criação da Tranzamazônica e a biodiversidade.
- Textos do Padre Vieira e do Marechal Rondon pontuam o programa. Depoimentos de Azis Ab'Saber, Márcio de Souza e Paulo Vanzolini.
Capitulo 09 - Brasil Caboclo - Povo Brasileiro
Capítulo 10 - "Invenção do Brasil"
- Este último capítulo de “O Povo Brasileiro” é, antes de mais nada. um grande mosaico: do preto e branco ao colorido das imagens; do passado e do presente (de 2005, é bom sempre lembrarmos) revivido; das revisões críticas finais dos principais comentaristas da série – Judith Cortesão, Eduardo Gianetti e Roberto Pinho, entre outros. E Darcy e eles nos lembram que o projeto de Portugal foi “subvertido pelos Trópicos, pelos ameríndios e pelos africanos”, num processo em que misturamos até mesmo deuses.
- Embora sem mencioná-lo, caberá a Chico Buarque ser o porta-voz de Darcy retomando o conceito de cordialidade enunciado por seu pai, Sérgio Buarque, e em geral alvo de uma interpretação equivocada por parte de “intelectuais” que nunca o leram. E Chico/Darcy o faz exatamente para lembrar que a história do Brasil foi dilacerada por conflitos e entrechoques – da Guerra dos Cabanos, na qual 100 mil caboclos morreram, a Palmares, Canudos, sem esquecer as Missões -, muitos dos quais continuam ainda latentes.
- Ao final do capítulo, fica a reafirmação de que a invenção do Brasil prossegue – genética, técnica e simbólica. Eduardo Gianetti aponta, como exemplo de um País que não deu certo, as desigualdades sociais. A fala final de Darcy, entretanto, é mais otimista, lançando a todos nós o desafio de construir o Brasil que nós queremos!
"Nós temos que inventar o Brasil que nós queremos!", afirma Darcy no último programa da série. Programa que nos faz refletir sobre as utopias que, desde o início, nos acompanham em nossa trajetória: da idéia dos Tupi de uma Terra Sem Males, passando pelo ideal medieval de um Paraíso Terreal, até o projeto contemporâneo de um Brasil viável e possível que ainda vai florescer.
Programa-caleidoscópio, a "Invenção do Brasil" reúne imagens e manifestações culturais antigas e modernas das várias regiões do Brasil. Depoimentos de Eduardo Gianetti, Agostinho da Silva, Judith Cortesão e Roberto Pinho.
Capitulo 10 - Invenção do Brasil - Povo Brasileiro
LINK PARA DOWNLOAD DO LIVRO: Darcy Ribeiro - O povo Brasileiro a formação e o sentido do Brasil
REFERÊNCIAS
Combate Racismo Ambiental
Rede Permacultura Social Brasileira
Excelente post!
ResponderExcluirMuito esclarecedor,
Obrigada por postar