Espaço cedido para a professora Maria Emília.
Divulgação dos textos que usarei com os alunos do ensino médio:
1)Leitura do
texto de apoio – esclarecimentos
2)Pesquisa sobre o assunto e
posicionamento
3)Escrita do
artigo de opinião (30 linhas em média, digitado e impresso)
4)Apresentação oral do artigo
Tema: REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL
O artigo de opinião é um gênero
jornalístico que se caracteriza por expressar opiniões de seus autores, ao
contrário das notícias, que devem ser isentas do julgamento daqueles que as
escrevem. O articulista, diante de fatos que provocam divergências com os
demais grupos sociais, escolhe uma posição a favor ou contra possíveis
encaminhamentos que esse fato possa ter para, fundamentado nela, escrever seu
texto.
Vamos tomar como
exemplo um fato que gera polêmicas atualmente: a existência do trabalho
infantil. Para
uma parte da sociedade, o trabalho infantil é um crime; para outra, um passo
natural no crescimento do indivíduo; para outra, ainda, considerá-lo um crime
ou não depende do tipo de trabalho infantil que é realizado: se forem tarefas
que exploram a criança e a impedem de estudar e brincar, é crime; se forem
tarefas que exigem tempo curto e preparam a criança para futuras
responsabilidades sociais e, além disso, contribuem para que a cultura de um
grupo social seja aprendida, não é crime, é um princípio educativo.
São as diversas
questões que surgem diante dos fatos que possibilitam
ao articulista escolher um ponto de vista, uma posição e a defendê-la com
argumentos que possam convencer o leitor de que seu ângulo de visão é o correto.
Para exemplificar, voltemos ao trabalho infantil: só mais recentemente é que
sua existência foi reconhecida como problema e tornou-se amplamente discutido
pela mídia. As
polêmicas também são localizadas: há lugares no mundo, por exemplo, em que o
trabalho infantil não é motivo de discussão.
As divergências
na interpretação dos fatos e na defesa ou condenação de questões de caráter
social dividem o público. Aliás,
em momentos onde as controvérsias se instalam o público espera esclarecê-las
tendo acesso a diferentes perspectivas, para confirmar ou não suas impressões
sobre as questões que circulam.
Como o artigo de opinião é
escrito
Os elementos
acima descritos compõem uma situação de comunicação específica que, de certa
forma, obriga o articulista a escrever dentro do gênero que será publicado. Ele
não poderá, por exemplo, apenas descrever o fato e as questões suscitadas por
ele sem opinar e justificar sua opinião: a situação criada exige que ele
proceda de acordo com o gênero. Mesmo que use a ironia para demonstrar seu
posicionamento diante de questões polêmicas, escrever artigos de opinião é ato
de seriedade: afinal, trata-se de
discutir questões polêmicas que atingem a vida de numerosas pessoas. Também
não poderá escrever sem considerar o fato que gerou polêmica, sem estudar seus
antecedentes e sua abrangência social.
O que significa isso? Em primeiro lugar,
que o articulista, ao escrever, não parte do zero: ele vai mergulhar em
questões polêmicas que já circulam sobre um fato, então necessariamente precisa
considerar, quando escreve, o que já foi dito antes sobre essas questões. Como
não poderia deixar de ser, já que se trata de escrever a partir de uma
polêmica, haverá grupos que já se posicionaram de forma contrária ao ponto de
vista que o articulista vai defender e outros que se colocaram a favor de seu
ângulo de visão sobre ela. O articulista, em seu texto, tomará uma posição diante da polêmica e dialogará,
obrigatoriamente, com esses grupos. Nesse diálogo, fará dois movimentos: vai
aproximar-se dos que estão a seu favor, concordando com eles, valorizando sua
posição e argumentos, e distanciar-se dos que estão contra, questionando-os e
desvalorizando seu modo de entender e colocar-se diante da questão.
O articulista,
além de representar um grupo, também não escreve para atingir indivíduos
isolados: ele discute com grupos ou representantes desses grupos. Dessa
maneira, podemos dizer que ele e outros representantes de grupos sociais com os
quais discute “fazem eco” às posições de muitas pessoas que representam. Ao
lermos um artigo, é como se ouvíssemos, por meio desses ecos, as vozes sociais
daqueles que se envolveram diretamente ou estão interessados em ângulos
diversos da questão em discussão. Ou seja, se formos a favor da posição do
articulista, é como se ele falasse por nós no artigo; se formos contra, é como
se ele ecoasse as vozes daqueles de que discordamos.
Se o articulista for hábil, conseguirá
passar para seu texto esse clima de debates e o leitor poderá “ouvir” as vozes
que discutem o problema. Essas vozes vão além das citações de discursos particulares
feitas pelo autor já que, cada citação, de alguma forma, evoca a posição dos
numerosos componentes do grupo social nela representado.
Tomando
novamente o trabalho infantil como exemplo, poderemos “ouvir”, em um artigo
sobre as questões provocadas por esse fato - se somos favoráveis à posição do
articulista - nossa própria voz, como um eco de nossa própria posição. E, é claro que não precisamos
conhecer pessoalmente nem termos trocado ideias com o articulista para isso.
Ouvir ecos de nossa voz, de nosso discurso sobre a polêmica, fará com que nos
solidarizemos com ele. Se, ao contrário, formos desfavoráveis à posição do
articulista, não nos identificaremos com o grupo a quem ele representa e nos
indignaremos com suas palavras, com seus argumentos. Se, numa outra
possibilidade, estivermos indecisos diante da questão evocada no artigo,
poderemos ou não nos deixar convencer pelo tecido argumentativo que o
articulista construiu em seu texto. Ao nos posicionarmos a favor, contra ou,
ainda, nos deixarmos persuadir pelo discurso do articulista, entraremos no
clima emocional do artigo e nos indignaremos ou exultaremos ao lê-lo. Para obter esse clima envolvente de
discussão, o artigo é todo escrito em tom de persuasão, de convencimento.
O movimento de persuadir o leitor é
feito por meio da construção e colocação
articulada de argumentos no artigo, a partir, em geral, da descrição do
fato e da polêmica constituída sobre ele e que o articulista quer discutir. Ele
usará diferentes tipos de argumentos, por exemplo: de autoridade,
citando falas de pessoas conhecidas por dominarem a questão; de causa
e consequência; de provas, referindo-se a
estatísticas e outros dados de estudos sobre o problema; de princípio,
quando se tratar de causa que envolva ética e moral.
Embora, ao analisarmos o artigo,
possamos classificar os argumentos em tipos, é importante lembrar que cada um
deles ecoa argumentos diversos. Assim, um argumento de provas, por exemplo,
ecoará vozes de autoridades do setor de pesquisa que as produziu; um argumento
de princípios, vozes de autoridades que discutem filosofia, ética, religião;
argumentos de causa e consequência serão fundamentados em provas e em lógica. Portanto, a rede argumentativa de um
artigo, para ser compreendida, exige cuidadosa análise das vozes sociais nele
evocadas.
Todo esse
complexo movimento argumentativo do artigo é feito tendo em vista o leitor,
porque é para convencê-lo ou persuadi-lo que os articulistas escrevem. Para
tanto, procuram engajá-lo na posição de aliado, antecipar as possíveis objeções
do leitor e levá-las em conta, incluindo-as em seu texto. Buscam também, na
posição de articulistas que representam setores sociais, colocar seu ponto de
vista como sendo “a verdade”. Se
os leitores se envolverem, o articulista e o jornal atingiram seu objetivo, o
de mobilizar o público e formar opinião.
A escrita do
artigo de opinião é marcada, linguisticamente, por essa situação comunicativa
que envolve discussões, controvérsias, reveladas em questões polêmicas diante
das quais o autor toma uma posição e a defende. A tomada de posição (que não pode
acontecer em outros gêneros jornalísticos como a notícia ou a reportagem) é
indicada no artigo, entre outras coisas, por marcas linguísticas que anunciam a posição do articulista: “penso
que”, “do nosso ponto de vista”; introduzem os argumentos: “porque”, “pois”;
trazem para o texto diferentes vozes: “alguns dizem que”, “as pesquisas
apontam”, “os economistas argumentam que”, introduzem a conclusão: “portanto”,
“logo”.
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