domingo, 9 de agosto de 2015

[Professora Maria Emilia] COMO FAZER UM ARTIGO DE OPINIÃO

Espaço cedido para a professora Maria Emília.

Divulgação dos textos que usarei com os alunos do ensino médio:



1)Leitura do texto de apoio – esclarecimentos
2)Pesquisa sobre o assunto e posicionamento
3)Escrita do artigo de opinião (30 linhas em média, digitado e impresso)
4)Apresentação oral do artigo

Tema: REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL 
O artigo de opinião é um gênero jornalístico que se caracteriza por expressar opiniões de seus autores, ao contrário das notícias, que devem ser isentas do julgamento daqueles que as escrevem. O articulista, diante de fatos que provocam divergências com os demais grupos sociais, escolhe uma posição a favor ou contra possíveis encaminhamentos que esse fato possa ter para, fundamentado nela, escrever seu texto.
Vamos tomar como exemplo um fato que gera polêmicas atualmente: a existência do trabalho infantil. Para uma parte da sociedade, o trabalho infantil é um crime; para outra, um passo natural no crescimento do indivíduo; para outra, ainda, considerá-lo um crime ou não depende do tipo de trabalho infantil que é realizado: se forem tarefas que exploram a criança e a impedem de estudar e brincar, é crime; se forem tarefas que exigem tempo curto e preparam a criança para futuras responsabilidades sociais e, além disso, contribuem para que a cultura de um grupo social seja aprendida, não é crime, é um princípio educativo.
São as diversas questões que surgem diante dos fatos que possibilitam ao articulista escolher um ponto de vista, uma posição e a defendê-la com argumentos que possam convencer o leitor de que seu ângulo de visão é o correto. Para exemplificar, voltemos ao trabalho infantil: só mais recentemente é que sua existência foi reconhecida como problema e tornou-se amplamente discutido pela mídia. As polêmicas também são localizadas: há lugares no mundo, por exemplo, em que o trabalho infantil não é motivo de discussão.
As divergências na interpretação dos fatos e na defesa ou condenação de questões de caráter social dividem o público. Aliás, em momentos onde as controvérsias se instalam o público espera esclarecê-las tendo acesso a diferentes perspectivas, para confirmar ou não suas impressões sobre as questões que circulam.
Como o artigo de opinião é escrito
Os elementos acima descritos compõem uma situação de comunicação específica que, de certa forma, obriga o articulista a escrever dentro do gênero que será publicado. Ele não poderá, por exemplo, apenas descrever o fato e as questões suscitadas por ele sem opinar e justificar sua opinião: a situação criada exige que ele proceda de acordo com o gênero. Mesmo que use a ironia para demonstrar seu posicionamento diante de questões polêmicas, escrever artigos de opinião é ato de seriedade: afinal, trata-se de discutir questões polêmicas que atingem a vida de numerosas pessoas. Também não poderá escrever sem considerar o fato que gerou polêmica, sem estudar seus antecedentes e sua abrangência social.
O que significa isso? Em primeiro lugar, que o articulista, ao escrever, não parte do zero: ele vai mergulhar em questões polêmicas que já circulam sobre um fato, então necessariamente precisa considerar, quando escreve, o que já foi dito antes sobre essas questões. Como não poderia deixar de ser, já que se trata de escrever a partir de uma polêmica, haverá grupos que já se posicionaram de forma contrária ao ponto de vista que o articulista vai defender e outros que se colocaram a favor de seu ângulo de visão sobre ela. O articulista, em seu texto, tomará uma posição diante da polêmica e dialogará, obrigatoriamente, com esses grupos. Nesse diálogo, fará dois movimentos: vai aproximar-se dos que estão a seu favor, concordando com eles, valorizando sua posição e argumentos, e distanciar-se dos que estão contra, questionando-os e desvalorizando seu modo de entender e colocar-se diante da questão.
O articulista, além de representar um grupo, também não escreve para atingir indivíduos isolados: ele discute com grupos ou representantes desses grupos. Dessa maneira, podemos dizer que ele e outros representantes de grupos sociais com os quais discute “fazem eco” às posições de muitas pessoas que representam. Ao lermos um artigo, é como se ouvíssemos, por meio desses ecos, as vozes sociais daqueles que se envolveram diretamente ou estão interessados em ângulos diversos da questão em discussão. Ou seja, se formos a favor da posição do articulista, é como se ele falasse por nós no artigo; se formos contra, é como se ele ecoasse as vozes daqueles de que discordamos.
Se o articulista for hábil, conseguirá passar para seu texto esse clima de debates e o leitor poderá “ouvir” as vozes que discutem o problema. Essas vozes vão além das citações de discursos particulares feitas pelo autor já que, cada citação, de alguma forma, evoca a posição dos numerosos componentes do grupo social nela representado.
Tomando novamente o trabalho infantil como exemplo, poderemos “ouvir”, em um artigo sobre as questões provocadas por esse fato - se somos favoráveis à posição do articulista - nossa própria voz, como um eco de nossa própria posição. E, é claro que não precisamos conhecer pessoalmente nem termos trocado ideias com o articulista para isso. Ouvir ecos de nossa voz, de nosso discurso sobre a polêmica, fará com que nos solidarizemos com ele. Se, ao contrário, formos desfavoráveis à posição do articulista, não nos identificaremos com o grupo a quem ele representa e nos indignaremos com suas palavras, com seus argumentos. Se, numa outra possibilidade, estivermos indecisos diante da questão evocada no artigo, poderemos ou não nos deixar convencer pelo tecido argumentativo que o articulista construiu em seu texto. Ao nos posicionarmos a favor, contra ou, ainda, nos deixarmos persuadir pelo discurso do articulista, entraremos no clima emocional do artigo e nos indignaremos ou exultaremos ao lê-lo. Para obter esse clima envolvente de discussão, o artigo é todo escrito em tom de persuasão, de convencimento.
O movimento de persuadir o leitor é feito por meio da construção e colocação articulada de argumentos no artigo, a partir, em geral, da descrição do fato e da polêmica constituída sobre ele e que o articulista quer discutir. Ele usará diferentes tipos de argumentos, por exemplo: de autoridade, citando falas de pessoas conhecidas por dominarem a questão; de causa e consequência; de provas, referindo-se a estatísticas e outros dados de estudos sobre o problema; de princípio, quando se tratar de causa que envolva ética e moral.
Embora, ao analisarmos o artigo, possamos classificar os argumentos em tipos, é importante lembrar que cada um deles ecoa argumentos diversos. Assim, um argumento de provas, por exemplo, ecoará vozes de autoridades do setor de pesquisa que as produziu; um argumento de princípios, vozes de autoridades que discutem filosofia, ética, religião; argumentos de causa e consequência serão fundamentados em provas e em lógica. Portanto, a rede argumentativa de um artigo, para ser compreendida, exige cuidadosa análise das vozes sociais nele evocadas.
Todo esse complexo movimento argumentativo do artigo é feito tendo em vista o leitor, porque é para convencê-lo ou persuadi-lo que os articulistas escrevem. Para tanto, procuram engajá-lo na posição de aliado, antecipar as possíveis objeções do leitor e levá-las em conta, incluindo-as em seu texto. Buscam também, na posição de articulistas que representam setores sociais, colocar seu ponto de vista como sendo “a verdade”. Se os leitores se envolverem, o articulista e o jornal atingiram seu objetivo, o de mobilizar o público e formar opinião.
A escrita do artigo de opinião é marcada, linguisticamente, por essa situação comunicativa que envolve discussões, controvérsias, reveladas em questões polêmicas diante das quais o autor toma uma posição e a defende. A tomada de posição (que não pode acontecer em outros gêneros jornalísticos como a notícia ou a reportagem) é indicada no artigo, entre outras coisas, por marcas linguísticas que anunciam a posição do articulista: “penso que”, “do nosso ponto de vista”; introduzem os argumentos: “porque”, “pois”; trazem para o texto diferentes vozes: “alguns dizem que”, “as pesquisas apontam”, “os economistas argumentam que”, introduzem a conclusão: “portanto”, “logo”.

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