Resumo do livro: A construção do Saber (primeiro capítulo) |
Por questão de sobrevivência e
para criar facilidades para sua vida, os seres humanos frequentemente se
confrontavam com a necessidade de obter conhecimentos, inclusive tendo que
construir um novo conhecimento por conta própria. Nesse capitulo foi abordado
os diferentes modos de aquisição do saber, dando especial atenção ao saber
cientifico moderno, com ênfase na ciência humana moderna.
1.1 OS SABERES ESPONTÂNEOS
Durante a pré-história os
humanos elaboravam o seu saber a partir de sua experiência e de suas
observações pessoais (exemplo: como criar o fogo). Incontáveis conhecimentos
foram adquiridos através da experiência pessoal, conhecimento esse que poderia
ser utilizado pelo resto da vida. Está aqui caracterizado o objetivo principal
da pesquisa do saber: conhecer o funcionamento das coisas, para melhor
controlá-las, e fazer previsões melhores a partir daí.
1.1.1 A intuição
Chamamos de intuição a
percepção imediata sem a intervenção do raciocínio. São explicações espontâneas,
também camadas de “senso comum”. O
senso comum não deixa de produzir saberes e também servem para a compreensão de
nosso mundo e de sociedade, e para nela viver com o auxílio de explicações
simples e cômodas. Porém é importante sempre desconfiarmos das explicações que nos
são dadas pelo senso comum, já que as mesmas podem ser um obstáculo à
construção do saber adequado, pois seu caráter aparente de evidência reduz a
vontade de verifica-lo e assim encontrar explicações menos superficiais sobre o
objeto de conhecimento.
1.1.2
A tradição
Quando
as explicações do senso comum parecem suficientes, deseja-se divulga-las,
compartilhá-las. É assim que surge a tradição, princípio de transmissão dos
saberes intuitivos. Seja no âmbito familiar ou em outras instituições e grupos
sociais, a tradição lega saberes que parecem uteis a todos a e que se juga
adequado conhecer para conduzir sua vida. Esse tipo de conhecimento é presumidamente
tido como verdadeiro no presente por crerem que se o eram no passado, no
presente também deveriam ser.
1.1.3
A autoridade
Frequentemente
autoridades se encarregam da transmissão da tradição, sem apresentarem provas
metodicamente elaboradas que justifiquem tais saberes. Podemos usar como
exemplo o caso das igrejas que impõem sua autoridade aos fieis pelos preceitos
ensinados pelo clero e que servem para guiar a vida daqueles que possuem fé. E
os fiéis seguem tais preceitos mesmo o sem que o sentido ou o as origens de
tais saberes sejam sempre evidentes. Assim, os saberes impostos pelas
autoridades guardariam um caráter de saber espontâneo para aqueles que os
seguem. Isso ocorre porque nem todos possuem capacidade de construir saberes espontâneos
sobre todas as coisas que seriam importantes conhecer, sendo mais cômodo, para
conduzir a vida, fazer uso de um repertorio de saber já pronto. Como pontuado
nesse exemplo, esse é o fator que daria às autoridades religiosas certo
controle sobre seus seguidores. O valor do saber imposto repousa justamente em
nosso consentimento em recebê-lo, e esse consentimento repousa, por sua vez, na
confiança que temos naqueles que o veiculam.
1.2 O SABER RACIONAL
Não
demorou muito para que o ser humano sentisse dos saberes que se fundamentavam
na intuição, no senso comum ou na tradição. O ser humano desejava saber mais e
de dispor de conhecimentos metodicamente mais elaborados e, portanto, mais confiáveis.
Porém, desde o despertar dos primeiros desejos até a concepção do saber
racional como uma forma dita científica (que se estabeleceu no ocidente há
apenas um século) foi uma trajetória longa.
1.2.1
O reino dos filósofos
Teve
sua origem na Grécia Antiga,
estimulada pela desconfiança que pensadores gregos tinham em relação às
explicações do universo baseadas nos Deuses, na magia ou na superstição. Esses
mesmos pensadores acreditavam que os seres humanos eram capazes, apenas com o
exercício racional da mente, de produzir saberes apropriados. Eles
desenvolveram os instrumentos da lógica; fizeram a distinção entre sujeito (que
procura conhecer) e objeto (que será conhecido), bem como a relação entre ambos;
desenvolveram o princípio da casualidade;
o silogismo.
No
decorrer dos séculos que vieram após a Antiguidade Grega, notamos poucos
avanços na concepção da ciência e nos métodos de constituição do saber. Os romanos negligenciaram a teoria pela
prática, mostrando-se mais técnicos do que sábios.
Na
Idade Média temos um reencontro com a
reflexão filosófica, porém agora dominada pela religião. Tais filósofos desejavam
conciliar o saber religioso com o saber filosófico clássico. A teologia
superava a filosofia.
O
Renascimento, brilhante pela
renovação nas artes e nas letras, não obteve sucesso equivalente no saber
científico. As novas descobertas cientificas concorreram com a magia e com a
bruxaria para tentar explicar o real.
É
durante o século XVII que surge a
ciência experimental, uma conjunção da razão com a experiência e que se caracterizada
principalmente com a preocupação em se proceder à observação empírica do real
antes de interpretá-lo pela mente, depois, eventualmente, de submetê-lo à
experimentação, recorrendo às ciências matemáticas para assistir suas observações
e suas experimentações. O pensamento cientifico moderno começa a se objetivar.
Um saber racional constitui-se a partir da realidade (empirismo) e coloca essa
explicação à prova (experimentação), conjugando o raciocínio indutivo com o raciocínio
dedutivo. Não se trata mais apenas de encontrar uma explicação, ainda que
geral, do fenômeno estudado, mas definir os princípios que fundamentam tal
explicação. Assim, no lugar das “leis divinas” surgem a noção de lei da natureza
e a ideia de que a ciência tem por objetivo definir suas próprias leis.
1.2.2
A ciência triunfante
Durante
o século XVIII encontramos muitos
avanços na ciência, em especial no campo da natureza física. Porém no campo das
ciências humanas o conhecimento especulativo ainda dominava e os avanços foram
poucos. Isso não impediu que grandes reflexões sobre as condições humanas
fossem feitas. Não à toa, esse século esse século foi chamado de “Século das
Luzes”.
Mas
é no século XIX que a ciência
triunfa
-
Domínio das ciências da natureza, com novas descobertas em ritmo e quantidade
abundante;
-
Ciência e tecnologia se encontram: cientistas saem dos laboratórios para terem
aplicações práticas.
-
As pesquisas fundamentais (cujo objetivo é conhecer pelo próprio conhecimento) é
acompanhada pela ciência aplicada (que visa resolver problemas concretos).
-
Tais descobertas e suas aplicações modificam profundamente a dinâmica do
século, atingindo quase todos os domínios da atividade humana.
-
Na agricultura a produção de alimentos cresce com as novas técnicas e com os
novos bens de produção.
-
A produção manufaturada também aumenta graças às maquinas, às novas fontes de
energia e aos novos materiais e modos de produção.
-
Com o auxílio de novas ferrovias e da navegação a vapor, os bens produzidos, agrícolas
ou industriais, são mais amplos e bem distribuídos.
-
No domínio da comunicação, surgem os telégrafos e os telefones, aproximando os
lugares e os humanos.
-
Na saúde os micróbios e os bacilos são descobertos, assim como os modos de preveni-los
e de combatê-los. As epidemias tornam-se mais raras no ocidente e a expectativa
de vida aumenta consideravelmente.
-
A população urbaniza-se. As cidades tornam-se lugares mais agradáveis para se
viver: as ruas e casas se iluminam, são criados sistemas de saneamento básico, são
desenvolvidos sistemas de transporte público, tais cidades passam a serem abastecidas
pelos mais variados bens de consumo.
As
pessoas do século XIX puderam perceber com clareza as mudanças pelas quais o
mundo passara e provavelmente foram os primeiros da história a morrerem em um
mundo profundamente diferente daquele que viram ao nascer. Sem uma observação
mais profunda, essa época poderia nos convencer de que a mesma foi um período “maravilhoso”
para a existência humana. Essa poderia ter sido uma época maravilhosa se tais
avanços das ciências e seus enfreáveis progressos não tivessem sidos
acompanhados de problemas sérios no plano social.
1.2.3
As ciências humanas e o positivismo
O
século XIX desejava, no domínio do saber sobre o homem e a sociedade,
conhecimentos tão confiáveis e práticos quanto os desenvolvidos para se
conhecer a natureza física, retirados de qualquer princípio de interpretação anterior
ou exterior, especialmente religioso. E era com esse espírito e com essa
preocupação que se desenvolvem as ciências humanas na segunda metade do século
XIX. Até então o método empregado no campo da natureza parecia tão eficaz que
não se via razão para também não as aplicar aos humanos.
É
apoiando-se no modelo de ciência positiva – o positivismo – que se desenvolvem
as ciências humanas, na segunda metade do século XIX. As principais características do pensamento
positivista eram:
a) Empirismo: o
conhecimento positivo parte da realidade como os sentidos a percebem e ajusta-se
à realidade
b)
Objetividade:
o conhecimento positivo deve respeitar
integralmente o objeto do qual trata o estudo. O sujeito conhecedor (o
pesquisador) não deve influenciar esse objeto de modo algum.
c)
Experimentação:
o conhecimento positivo repousa na experimentação. Somente o teste dos fatos, a
experimentação, poderia demonstrar sua precisão.
d) Validade: o
conhecimento positivo é quantitativo. Isso permite, se se chega às mesmas
medidas reproduzindo-se experiência nas mesmas condições, concluir a validade
dos resultados e generalizá-los.
e)
Leis e previsão: O conhecimento positivo é determinista. O conhecimento dessas
leis permitiria prever os comportamentos sociais e geri-los cientificamente.
Referência bibliográfica:
LAVILLE,
C.; DIONNE, J. A Construção do Saber:
manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre:
Editora Artes Médicas Sul Ltda.; Belo Horizonte: Editora UFMG. 1999, p.17-30.
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