Feminismo - problematizando o espaço da mulher na sociedade
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Feminismo
Feminismo é o movimento social que defende igualdade de direitos e status entre homens e
mulheres em todos os campos.
Embora
ao longo da história diversas correntes filosóficas e religiosas tenham
defendido a dignidade e os direitos da mulher em muitas e diferentes situações,
o movimento feminista remonta mais propriamente à revolução francesa.
A
convulsão desencadeada em 1789, além de pôr em cheque o sistema político e
social, então vigente na França e no resto do Ocidente, encorajou algumas
mulheres a denunciar a sujeição em que eram mantidas e que se manifestava em
todas as esferas da existência: jurídica, política, econômica, educacional etc.
Enquanto
os revolucionários proclamavam uma declaração dos direitos do homem e do
cidadão, a escritora e militante Olympe de Gouges redigia um projeto de
declaração dos direitos da mulher, inspirada nas ideias poéticas e filosóficas
do marquês de Condorcet.
Desde
o início da revolução, as francesas participaram ativamente da vida política e
criaram inúmeros clubes de ativistas femininas. Em 1792, uma delegação
encabeçada por Etta Palm foi até a Assembleia para exigir que as mulheres
tivessem acesso ao serviço público e às forças armadas. Essa exigência não foi
atendida e o movimento feminino foi suprimido pelo Terror. Robespierre proibiu
que as mulheres se associassem a clubes, e o projeto de igualdade política de
ambos os sexos foi arquivado.
Em
1848, a França conheceu nova revolução e, como a anterior, sacudiu as bases da
ordem estabelecida. Mais uma vez os clubes femininos proliferaram no país. As
mulheres agora reivindicavam não só a igualdade jurídica e o direito a voto,
mas também a equiparação de salários. Essas novas exigências se explicavam
pelas transformações da sociedade europeia da época. Com a crescente
industrialização, as mulheres dos meados do século XIX foram cada vez mais
abandonando seus lares para empregar-se como assalariadas nas indústrias e
oficinas. Entraram, assim, em contato com as duras realidades do mercado de
trabalho: se os operários da época já eram mal pagos, elas recebiam menos
ainda. Consequentemente, era mais vantajoso dar emprego às mulheres que aos
homens, e, assim, estes últimos viram-se envolvidos em uma penosa concorrência
com o outro sexo. Irromperam até mesmo movimentos de oposição ao trabalho
feminino.
Nesse
confuso panorama, emergiram dois fenômenos significativos. A partir do momento
em que as mulheres se mostraram capazes de contribuir para o sustento de suas
famílias, não foi mais possível tratá-las apenas como donas-de-casa ou objetos
de prazer. As difíceis condições de trabalho impostas às mulheres
conduziram-nas a reivindicações que coincidiam com as da classe operária em
geral. É, pois, dessa época que data a estreita relação do feminismo com os
movimentos de esquerda.
Feminismo
nos Estados Unidos e no Reino Unido:
Os
Estados Unidos e o Reino Unido também se notabilizaram por vigorosos movimentos
feministas, surgidos já em princípios do século XIX. Em 1837, fundou-se nos
Estados Unidos a universidade feminina de Holyoke e, nesse mesmo ano,
realizou-se em Nova York uma convenção de mulheres que se opunham à escravidão.
O abolicionismo foi, efetivamente, um dos temas centrais do desenvolvimento e
consolidação do movimento feminista americano.
No
Reino Unido, Mary Wollstonecraft publicou A Vindication of the Rights of Women
(1792; Reivindicação dos direitos das mulheres), obra em que exigia para as
mulheres as mesmas oportunidades de que gozavam os homens na educação, no
trabalho e na política. Mas foi somente em meados do século XIX, graças aos
esforços conjuntos de Barbara Leigh Smith e do filósofo e economista John
Stuart Mill, que se criou um comitê do sufrágio feminino. Em 1866, esse comitê
apresentou ao Parlamento um projeto igualitário, que foi rejeitado.
Apesar
dos êxitos parciais alcançados, o movimento sufragista britânico teve de
esperar também o século XX para ver coroados seus esforços.
O
movimento feminista brasileiro teve como sua principal líder a bióloga e
zoóloga Berta Lutz, que fundou, em 1922, a Federação Brasileira pelo Progresso
Feminino. Essa organização tinha entre suas reivindicações o direito de voto, o
de escolha de domicílio e o de trabalho, independentemente da autorização do
marido. Outra líder feminina, Nuta Bartlett James, participou das lutas políticas
do país na década de 1930 e foi uma das fundadoras da União Democrática
Nacional (UDN).
Feminismo
no século XX:
Desde o início do século XX, a situação mudou
rapidamente pelo mundo inteiro. A revolução russa de 1917 concedeu o direito de
voto às mulheres e, em 1930, elas já votavam na Nova Zelândia (1893), na
Austrália (1902), na Finlândia (1906), na Noruega (1913) e no Equador (1929).
Por volta de 1950, a lista compreendia mais de cem nações. Após a segunda
guerra mundial, o feminismo ressurgiu com vigor redobrado, sob a influência de
obras como Le Deuxième Sexe (1949; O Segundo Sexo), da francesa Simone de
Beauvoir, e The Feminine Mystique (1963; A Mística Feminina), da americana
Betty Friedan. No Reino Unido destacou-se Germaine Greer, australiana de
nascimento, autora de The Female Eunuch (1971; A Mulher Eunuco), considerado o
manifesto mais realista do women's liberation moviment (movimento de libertação
da mulher), mundialmente conhecido como women's lib. Agora já não se tratava
mais de conquistar direitos civis para as mulheres, mas antes de descrever sua
condição de oprimida pela cultura masculina, de revelar os mecanismos
psicológicos e psicossociais dessa marginalização e de projetar estratégias
capazes de proporcionar às mulheres uma liberação integral, que incluísse
também o corpo e os desejos. Além disso, contam-se entre as reivindicações do
moderno movimento feminista a interrupção voluntária da gravidez, a radical
igualdade nos salários e o acesso a postos de responsabilidade.
O
objetivo de plena igualdade, nunca radicalmente alcançado, realizou-se de forma
muito desigual nos diversos países. Entre os principais obstáculos, os de
índole cultural são de grande importância. Assim, por exemplo, sobrevivem em
grande parte do continente africano resíduos da organização tribal. Em outra
esfera, as peculiaridades culturais do mundo islâmico redundam em dificuldades
e atrasos na consecução das reivindicações feministas.
Importantes ondas feministas
Primeira
onda:
A
primeira onda do feminismo se refere a um período extenso de atividade
feminista ocorrido durante o século XIX e fim do século XX no Reino Unido e nos
Estados Unidos, que tinha o foco originalmente na promoção da igualdade nos
direitos contratuais e de propriedade para homens e mulheres, e na oposição de
casamentos arranjados e da propriedade de mulheres casadas (e seus filhos) por
seus maridos. No entanto, no fim do século XIX, o ativismo passou a se focar
principalmente na conquista de poder político, especialmente o direito ao
sufrágio por parte das mulheres. Ainda assim, feministas como Voltairine de
Cleyre e Margaret Sanger já faziam campanhas pelos direitos sexuais,
reprodutivos e econômicos das mulheres nesta época. A primeira onda
preocupou-se muito pouco com a questão do aborto; no geral, eram contrárias ao
conceito. Embora nunca tenha se casado, Anthony publicou seus pontos de vista
sobre o casamento, sustentando que uma mulher deveria poder recusar-se a fazer
sexo com seu marido; a mulher americana não tinha, então, qualquer recurso
legal contra o estupro por seu próprio marido
Segunda
onda:
Segunda
onda do feminismo se refere a um período da atividade feminista que teria
começado no início da década de 1960 e durado até o fim da década de 1980. A
acadêmica Imelda Whelehan sugere que a segunda onda teria sido uma continuação
da fase anterior do feminismo, que envolveu as suffragettes do Reino Unido e
Estados Unidos. Se preocupava principalmente com questões de igualdade e o fim
da discriminação. .A ativista e autora feminista Carol Hanisch cunhou o slogan
"O pessoal é político", que se tornou sinônimo desta segunda onda. As
feministas de segunda onda viam as desigualdades culturais e políticas das
mulheres como ligadas inexoravelmente, e encorajavam ativamente as mulheres a
compreenderem aspectos de suas vidas pessoas como sendo profundamente
politizados, e refletindo as estruturas de poder sexistas.
Terceira
onda:
A
terceira onda do feminismo começou no início da década de 1990, como um
resposta às supostas falhas da segunda onda, e também como uma retaliação a
iniciativas e movimentos criados pela segunda onda. O feminismo da terceira
onda visa desafiar ou evitar aquilo que vê como as definições essencialistas da
feminilidade feitas pela segunda onda que colocaria ênfase demais nas
experiências das mulheres brancas de classe média-alta. Uma interpretação
pós-estruturalista do gênero e da sexualidade é central à maior parte da
ideologia da terceira onda. As feministas da terceira onda frequentemente
enfatizam a "micropolítica", e desafiam os paradigmas da segunda onda
sobre o que é e o que não é bom para as mulheres. A terceira onda teve sua
origem no meio da década de 1980; líderes feministas com raízes na segunda
onda, como Gloria Anzaldua, bell hooks, Chela Sandoval, Cherrie Moraga, Audre
Lorde, Maxine Hong Kingston, e diversas outras feministas negras, procuraram
negociar um espaço dentro da esfera feminista para a consideração de
subjetividades relacionadas à raça.
Feminismo no Brasil
O
feminismo brasileiro atravessou diferentes fases e dilemas ao longo do tempo.
Ao
falar sobre o feminismo no Brasil, devemos inicialmente falar sobre a situação
da mulher em nossa sociedade. Durante vários séculos, as mulheres estiveram
relegadas ao ambiente doméstico e subalternas ao poder das figuras do pai e do
marido. Quando chegavam a se expor ao público, o faziam acompanhadas e
geralmente se dirigiam para o interior das igrejas. A limitação do ir e do vir
era a mais clara manifestação do lugar ocupado pelo feminino.
A
transformação desse papel recluso passou a experimentar suas primeiras
transformações no século XIX, quando o governo imperial reconheceu a
necessidade de educação da população feminina. No final desse mesmo período,
algumas publicações abordavam essa relação entre a mulher e a educação, mas sem
pensar em um projeto amplo a todas as mulheres. O conhecimento não passava de
instrumento de reconhecimento das mulheres provenientes das classes mais
abastadas.
Chegando
até essa época, as aspirações pelo saber existiam, mas não possuíam o interesse
de subverter ou questionar a ordem imposta pelo mundo dos homens. No século XX,
os papéis desempenhados pela mulher se ampliaram quando algumas destas se
inseriram em uma sociedade industrial, onde assumiram uma gama diversa de postos
de trabalho. Apesar disso, a esfera da mulher ligada ao lar continuava a ter
sua força hegemônica.
Aqui
tínhamos uma diversificação dos feminismos que iam da tendência bem comportada
até o feminismo mais incisivo. Nesse quadro, observamos a mobilização de
mulheres que exigiam o seu direito à cidadania sem questionar os outros papéis
subalternos assumidos pelas mesmas. Na outra extremidade, vemos mulheres que
reivindicam sua ampliação na vida pública, a defesa irrestrita do movimento dos
trabalhadores e a consolidação dos princípios de lutas comunistas.
Entre
as décadas de 1930 e 1960, as manifestações feministas oscilavam mediante as
mudanças desenvolvidas no cenário político nacional. Em 1934, o voto feminino
fora reconhecido pelo governo de Getúlio Vargas. Já em 1937, os ideais
corporativistas do Estado Novo impediram a expressão de movimentos de luta e
contestação de homens e mulheres. Nos anos de 1950, a redemocratização
permitira a flexibilização da exigência que condicionava o trabalho feminino à
autorização marital.
A
revolução dos costumes engendrada na década de 1960 abriu caminho para que o
feminismo se tornasse um movimento de maior força e combatividade. Mesmo sob o
contexto da ditadura, as mulheres passaram a se organizar para questionarem
mais profundamente seu papel assumido na sociedade. A problemática dos padrões
de comportamento passou a andar de mãos dadas com os ideais de esquerda que
inspiravam várias participantes desse momento.
Vale
aqui ressaltar que a luta pela equidade entre os gêneros acabou criando dilemas
significativos em relação à mulher feminista. Lutar pelos direitos da mulher,
em muitos momentos, parecia ser a demonstração que a mulher poderia
simplesmente assumir os mesmos lugares e comportamentos antes privados ao mundo
masculino. Dessa forma, a subjetividade feminina era deixada de lado para
favorecer um ideal de que a “verdadeira feminista” deveria ser combativa e, ao
mesmo tempo, embrutecida.
Quando
atingimos o processo de redemocratização do país, observamos que o feminismo
passou por uma reorganização contrária a uma tendência unificadora. Uma espécie
de “feminismo temático” apareceu em instituições que tratavam de demandas
específicas da mulher. Em certo sentido, o feminismo tomava para si não só a
participação na esfera política, mas também se desdobrava no debate de questões
e problemas de ordem mais concreta e imediata.
Dessa
forma, chegamos à atualidade vendo que a ação feminista não mais se comporta
apenas na formação de movimentos organizados. Sendo assim, a intenção de se
pensar sobre as necessidades da mulher não mais atravessa a dificuldade de se
criar um projeto amplo e universalista. Entre as grandes e pequenas demandas,
as mulheres observam que a conquista de sua emancipação abre portas para a
compreensão e a resolução de outros novos desafios.
Críticas ao feminismo moderno
Os
críticos do movimento feminista moderno alegam que o mesmo se converteu em um feminismo
radical, cuja prática vem de mulheres que odeiam homens (mulheres misândricas)
e provém de autoritarismo.
Até
mesmo mulheres que são integrantes de movimentos feministas mais liberais criticam
a radicalização do movimento feminista, alegando que mulheres confundem
feminismo com revanchismo. Segundo as mesmas o feminismo NÃO seria uma vingança
pelos crimes cometidos pelo patriarcado: feminismo seria a busca pela igualdade
entre os gêneros.
De
maneira pejorativa, aquelas que confundem essas duas linhas de pensamento são
comumente chamam de “feminazis”.
Outras
críticas ao movimento feminista moderno seriam direcionadas ao sentido de que o
mesmo não lutaria por direitos iguais, mas sim por privilégios.
Neste
sentido, são comuns argumentos do tipo:
-
Se a proposta das feministas é a igualdade, então temos que aprender a abrir
mão de certos privilégios. Do contrário, homens continuarão sobrecarregados de
tarefas "masculinas" e mulheres sobrecarregadas de tarefas
"femininas". Se é para abolir o sexismo e as desigualdades de gênero,
então vamos ser coerentes:
-
Você já viu alguma feminista brigar pelo direito de trabalhar em minas de
carvão ou em trabalhos perigosos comuns aos dos homens?
-
Você já viu alguma feminista brigar pelo direito de pagar o mesmo valor de
seguro de automóveis que os homens?
-
Já viu alguma feminista lutar pelo fim do machismo nas Forças Armadas?
-
Já viu alguma feminista brigar para que homens e mulheres tenham o mesmo tempo
de licença após o nascimento dos filhos?
-
Já viu alguma feminista exigir tempo igual de aposentadoria para homens e
mulheres?
-
Já viu alguma feminista lutar para que homens e mulheres sejam condenados ao
mesmo tempo de pena para o mesmo crime?
Considerações finais
Assim
como em outras partes do mundo, o Brasil passou por uma onda de
despatriarcalização, representada por uma longa mudança institucional que
propiciou uma disrupção dos privilégios masculinos na família e na sociedade e
a concessão de crescentes direitos às esposas e aos filhos. As regras de
casamento e de parceria sexual se diversificaram e se tornaram mais equitativas
no tocante às relações de gênero, entendidas de maneira não binária.
Os
casais com filhos deixaram de ser maioria absoluta dos arranjos domiciliares e
cresceu o percentual de casais sem filhos, famílias monoparentais, coabitação
marital (inclusive do mesmo sexo) e pessoas vivendo sozinhas. A transformação
mais marcante do século XX no Brasil – e que sintetiza as mudanças sociais, econômicas
e demográficas – foi a alteração da presença da mulher de coadjuvante das
decisões familiares para protagonista da sociedade em termos globais e
institucionais.
Como
visto pelos dados apresentados, em uma perspectiva de longo prazo, o Brasil vem
apresentando avanços sociais e nas relações de gênero nas áreas de saúde,
educação, esportes, mídia, etc. Nestas áreas as desigualdades de gênero se
reduziram bastante ou houve reversão do hiato de gênero (gender gap), como na
educação. Na política os ganhos foram menores, pois embora as mulheres tenham
se tornado maioria do eleitorado, ainda possuem uma das mais baixas presenças
no parlamento entre os países da América Latina.
No
mercado de trabalho houve conquista parciais, com uma inserção massiva das
mulheres na PEA e uma ampliação do leque ocupacional, com redução dos
diferenciais de salário e renda entre homens e mulheres. Já o sistema de
previdência social tem atuado no sentido de contrabalançar desigualdades do
mercado de trabalho e tem favorecido as mulheres das gerações mais velhas que
podem contar com aposentadoria, pensões ou benefícios como o BPC/LOAS.
Parece
existir um “desencontro/desajuste” (mismatch) entre as agendas de demandas
sociais e mesmo de resposta de política pública. Crescem as “desigualdades reversas de
gênero”.
Um
exemplo pode ser identificado no caso da educação, pois embora continue sendo
muito relevante superar os vieses sexistas, racistas e homofóbicos nas
políticas de educação pública, o hiato
revertido que vem desfavorecendo meninos e jovens homens -- que tem seguramente
efeitos negativos nas relações entre gêneros – não tem sido tratado como um
problema de gênero relevante que deveria receber atenção sistemática da
sociedade e do estado.
Da
mesma forma a questão crucial do equacionamento das responsabilidades quanto às
tarefas da reprodução -- considerando-se inclusive as mudanças ocorridas nas
famílias - não tem recebido atenção adequada, seja no debate público ou seja na
formulação de políticas.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Branca Moreira & PITANGUY,
Jacqueline. O que é feminismo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1991.
PINTO, Céli Regina Jardim. Uma
história do feminismo no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo,
2003.
SCIELO, Feminismo, história e poder.
Disponível em:
INFOESCOLA, Feminismo. Disponível em:
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