Resumo do artigo
“Trabalho e Gênero no Brasil nos últimos 10 anos”, de Maria C. A. Bruschini
Tendo como base dados de estatísticas oficiais, como as do IBGE, do
Ministério do Trabalho e Emprego e do MEC, o artigo “Trabalho e Gênero no
Brasil nos últimos 10 anos”, de Maria C. A. Bruschini apresenta um panorama das
mulheres no mercado de trabalho brasileiro.
O artigo apresenta um quadro da situação profissional das mulheres
brasileiras com situações antagônicas:
- Aumento da participação feminina no mercado de trabalho;
- Elevado número de mulheres desempregadas;
- Má qualidade do emprego feminino;
- Mulheres escolarizadas com acesso a carreiras e profissões de prestigio e com cargos de gerência e diretoria, sendo bem remuneradas;
- Predomínio do trabalho feminino em atividades precárias e informais;
- Mulheres com salários menores do que a dos homens.
O artigo também aborda a situação de dupla jornada das mulheres, sobrecarregando
as trabalhadoras, principalmente as que possuem filhos pequenos.
A autora dividiu o artigo em três partes:
- 1ª parte: Dados gerais que demonstram o crescimento da presença feminina no mercado de trabalho.
- 2ª parte: Destaca as áreas, ocupações e profissões onde as mulheres obtiveram mais progresso.
- 3ª parte: Destaca as áreas, ocupações e profissões onde as mulheres obtiveram pouco progresso.
1 - DADOS GERAIS E PERFIS DA FORÇA DE TRABALHO FEMININO
Mais da metade da população feminina em idade ativa trabalhou ou
procurou emprego em 2005, e 40 entre 100 trabalhadores eram mulheres.
No século XX importantes transformações demográficas, culturais e
sociais tiveram grande impacto sobre o aumento do trabalho feminino, dos quais
podemos destacar:
- Queda da taxa de fecundidade;
- Aumento de expectativa de vida das mulheres (75,5 anos);
- Considerável aumento de famílias chefiadas por mulheres;
- Mudanças nos padrões culturais e nos valores relativos ao papel das mulheres na sociedade;
- Expansão da escolaridade das mulheres e o ingresso significativo das mesmas no ensino superior, viabilizando para as mesmas novas oportunidades de trabalho.
Apesar das mudanças, as mulheres ainda são as principais responsáveis
pelas atividades domésticas e cuidado com os filhos e demais familiares.
Trabalho
Doméstico e Tempo Consumido Nas Atividades Reprodutivas
O lugar que a mulher ocupa na sociedade também é determinado pelo seu
papel no seio familiar, já que, tanto no espaço urbano quanto no rural, a
mulher tem que conciliar o espaço produtivo com o espaço reprodutivo (familiar)
e todas as atividades domesticas correspondentes.
As atividades domésticas são realizadas majoritariamente por mulheres.
Tais atividades consomem tempo e energia de quem as realiza e por isso devem
ser consideradas como um trabalho não remunerado, e não uma “inatividade”.
A presença dos homens nas atividades domesticas não podem ser
desprezadas, entretanto uma gama considerável de homens se envolvem em tarefas
domesticas de maneira seletiva, participando apenas de atividades específicas,
de maneira eventual e a titulo de ajuda e cooperação (e não obrigação ou
dever). Os homens se envolvem preferencialmente em:
- Atividades interativas (exemplo: cuidar dos filhos);
- Interseção entre privado/público (exemplos: fazer compras, levar os filhos ao hospital);
- Atividades intelectuais (exemplo: ajudar os filhos nos estudos).
Porém os homens são mais resistentes e menos participativos em
atividades como:
- Atividades rotineiras (exemplo: lavar, passar, limpar, cozinhar);
- ·Até mesmo em atividades domésticas valorizadas os homens são pouco participativos (exemplo: realizar uma culinária mais sofisticada).
As cônjuges são as mulheres que trabalham o número mais elevado de horas
semanais em afazeres domésticos. Em segundo lugar aparecem as chefes de
família.
A presença de filhos pequenos é o fator que mais dificulta a atividade
produtiva feminina. As mães nessa situação dedicam quase 32 horas semanais para
cuidar dos trabalhos domésticos. Por estarem sobrecarregadas na esfera
familiar, as mães de filhos pequenos apresentam taxas mais baixas de atividade
na esfera produtiva. As taxas de atividade das mães são mais baixas quando os
filhos tem menos de 2 anos, em comparação com aquelas de filhos maiores. Ainda que estejam sobrecarregadas e apesar de
todo o tempo consumido com os filhos pequenos na esfera doméstica, as mães de
filhos pequenos estão entrando consistentemente no mercado de trabalho. Já as
mães com filhos com idade superior a 7 anos de idade apresentam taxa de
atividade muito superiores já que, supostamente, elas estariam sendo ajudadas
pela escola no cuidado com os filhos.
2 - AREAS E OCUPAÇÕES COM MAIOR PROGRESSO DAS MULHERES: 1992 – 2005
Educação
A educação é um dos fatores mais determinantes quanto ao ingresso de
mulheres no mercado de trabalho.
As trabalhadoras apresentam escolaridade superior à dos trabalhadores e
essa superioridade começa a ocorrer já no ensino médio. No ensino profissionalizante
os percentuais femininos são bastante elevados, sobretudo no técnico, na área
de serviços e em várias especialidades, tendo como destaque a saúde e a artes.
No ensino superior as mulheres ampliaram significativamente sua presença
superando os homens, com a marca de 62% das pessoas formadas. Mas apesar dos
números positivos para as mulheres, se faz necessário ressaltar que as escolhas
de curso pelas feitas pelas mulheres continuam a recair preferencialmente sobre
áreas de conhecimento tradicionalmente “femininas” como a educação, a saúde e o
bem-estar social, as humanidades e a arte. Porém, como a a parcela feminina nas
universidades vem aumentando, a presença da mesmas em outras áreas conhecidas
como “nichos masculinos” – por exemplo a engenharia, a produção e construção
civil vem aumentando.
Ocupações e profissões de prestigio
No contraponto das ocupações precárias, as mulheres instruídas, além de
marcarem presença nos tradicionais “guetos” femininos, também têm adentrado em
áreas profissionais de prestigio, consolidando a presença feminina em
profissões como Engenharia, Medicina e grupos da área jurídica (advogadas,
procuradoras, juízas, promotoras e consultoras jurídicas).
- Fatores que favoreceram o ingresso das mulheres nessas ocupações que dispõem de maior prestigio social:
- Intensa transformação cultural nos anos 60 e 70 alavancadas pelos movimentos sociais e políticos da época;
- Expansão das universidades públicas e, principalmente, particulares;
- Racionalização e transformações pelas quais passaram as profissões.
Em relação a jornada de trabalho os e as profissionais trabalham
aproximadamente o mesmo número de horas, porém persiste uma disparidade nos
salários oferecidos para os homens e mulheres, com as trabalhadores recebendo
um rendimento inferior ao dos trabalhadores (exceção feita as juízas e procuradoras).
Executivas em cargos de diretoria
Um estudo realizado no ano 2000 mostrou que 24% dos cargos de diretoria
eram ocupados por mulheres, com presença mais significativa em empresas públicas,
com destaque para as áreas da saúde, educação e serviço social. De uma maneira
geral, as diretoras de empresas do setor formal obtêm rendimentos inferiores aos
dos seus colegas do mesmo nível.
3 – TRAÇOS RECORRENTES NO TRABALHO FEMININO
As trabalhadoras continuam encontrando maiores oportunidades de trabalho
e emprego nas áreas de prestação de serviço, na agropecuária, no setor social,
no comércio de mercadorias e na indústria.
A inserção das mulheres no mercado de trabalho brasileiro tem sido
caracterizada através do tempo pela precariedade que tem atingido uma
importante parcela de trabalhadoras, seja sendo doméstica, seja realizando
atividades não remuneradas ou trabalhando na produção para consumo próprio ou
do grupo familiar.
O emprego doméstico remunerado é o nicho ocupacional feminino por
excelência, onde 90% dos que exercem essa profissão são mulheres.
Mais de 6 milhões de mulheres brasileiras estão no mercado de trabalho
em situação precária, principalmente devido:
- As longas jornadas de trabalho;
- Os baixos índices de posse de carteira de trabalho;
- Os salários baixos;
- Os trabalhos não remunerados (que apesar de também ocorrerem em setores urbanos, ocorrem predominantemente no setor rural).
Mercado formal e estrutura ocupacional
A parcela formal de ocupação é tradicionalmente reduzida no país e é
ainda menor entre as mulheres.
Como foi anteriormente citado, ainda que as mulheres conquistem espaços,
a estrutura ocupacional das mulheres ainda predomina nos tradicionais “guetos”
femininos como, por exemplo, a enfermagem, a nutrição, a assistência social, a
psicologia, o magistério (nos níveis pré-escolares, fundamental e médio), nas
secretarias, como auxiliares de contabilidade, caixas de supermercado entre
outras funções.
Desemprego e rendimento no trabalho
As mulheres têm sido especialmente atingidas pelo desemprego. Desde os
anos 90, têm-se verificado maiores taxas de desemprego entre elas do que entre
os homens.
As mais baixas remunerações recebidas pelas mulheres, se comparadas com
a dos homens, são reafirmadas quando se consideram os setores econômicos, os
grupos de horas trabalhadas, a posição na ocupação, os anos de estudo e o tipo
de vínculo.
Em média, tanto em 1993 quanto em 2005, as mulheres sempre ganharam
menos do que os homens, mesmo quando trabalham o mesmo número de horas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos últimos anos as trabalhadoras brasileiras obtiveram alguns
progressos no mercado de trabalho, embora tenham persistido ao mesmo tempo inúmeras
condições desfavoráveis.
Movidas pela escolaridade, as trabalhadoras mais instruídas passaram a
ocupar postos e profissões de prestígio. Entretanto, o maior contingente de
trabalhadoras, mais de 30% da força de trabalho feminina, continua sendo
composta por um grupo que ocupa postos com em profissões precárias.
As condições de desigualdade das mulheres perante os homens se revelam
também na persistência da responsabilidade quase que exclusiva das mulheres e
das mães com os afazeres domésticos e com os cuidados com as crianças e demais
familiares.
Leia o artigo na integra em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-15742007000300003
Leia uma apresentação de prezi sobre esse
artigo em:
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BRUSCHINI, Maria C. Trabalho e gênero no
Brasil nos últimos dez anos. Caderno de Pesquisa, vol.37, n.132, p.537-572, São
Paulo, Sept./Dec. 2007
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