sábado, 12 de outubro de 2013

(Sociologia) KARL MARX: PENSAMENTO E LUTA REVOLUCIONÁRIA

marxism
Karl Marx by I Strawfish I

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Nesse post encontraremos as contribuições de Karl Marx para o pensamento sociológico. Antes de começar, eu gostaria de informa-los que eu não irei emitir opiniões favoráveis ou contrarias a tais pensamentos. Tudo que aqui for escrito será conforme aquilo que Marx escreveu. Eu me resumirei a comunicar as ideias que Marx desenvolveu em suas obras, cabendo a quem ler esse post a iniciativa de concordar ou discordar de tais pensamentos.

 Video-aula: Classicos da Sociologia - Karl Marx

INTRODUÇÃO: APRESENTANDO MARX

Young Karl Marx
Karl Marx, em 1836
  • No filme Tempos Modernos de Charles Chaplin encontramos muitas cenas memoráveis, dentre algumas podemos citar aquela em que passa pela rua um caminhão carregando peças de madeira e com uma bandeira vermelha (mesmo o filme sendo em preto e branco, não é muito difícil imaginar a cor da bandeira) que serviria para indicar que algum lugar estaria em obras. A bandeira cai do caminhão e o personagem Carlitos inocentemente pega a bandeira e começa a agitar e a acenar com a bandeira para que o caminhão volte. Sem que Carlito perceba, atrás dele dobra a esquina uma multidão em marcha pregando união e liberdade. Com a multidão marchando atrás de um inocente Carlitos que gritava e balançava a tal bandeira, deu a entender que Carlitos seria um líder ao qual todos seguem.  A polícia observa tal cena e esse mal-entendido teria sérias consequências, com Carlitos sendo preso como um líder comunista por engano.
  • Para que possamos entender qual é o problema da bandeira vermelha empunhada por Carlitos, seu significado no contexto da cena e o motivo pelo qual ele foi preso, nós precisaríamos recorrer a um pensador chamado Karl Marx.
  • Karl Einrich Marx (1818 – 1883) foi um economista político, sociólogo e revolucionário alemão.
  • Ao lado de Émile Durkheim e Max Weber, um dos fundadores da sociologia.
  • Sua ideias foram influenciadas  pela economia clássica inglesa, o socialismo francês e o idealismo filosófico de Hegel.
  • Todos os pensamentos sociológicos que vieram depois de Marx tiveram que, de alguma forma, dialogar com as teorias marxistas.
  • As ideias de Marx influenciaram a fundação de partidos comunistas em todo o mundo, inclusive no Brasil (PSTU, PCB, PCBR, PCO, entre outros), e serviram de base para que muitos governos tentassem aplicar em seus respectivos países o modelo socialista de governo.
  • Dentre as suas principais obras, podemos citar: o Manifesto do Partido Comunista (Manifesto Comunista), escrito em parceria com o seu amigo e grande contribuidor Friedrich Engels, e é considerado um dos tratados políticos de maior influência mundial e que até hoje tem servido de inspiração para levantes políticos mundo afora; e o conjunto de três livros intitulado O Capital, um estudo aprofundado no campo da economia política em que aprofundou o estudo do capitalismo.


PENSAMENTO MARXISTA

1 - NADA É ESTÁTICO, NADA É PARA SEMPRE! 

  • Todos os dias o mundo passa por modificações quase imperceptíveis, que com o passar do tempo se tornam mais e mais visíveis.
  • Isso acontece quando, por exemplo, visitamos uma cidade que a muito tempo não íamos.
  • Para que essas mudanças acontecessem foi necessário que o “velho” cedesse lugar ao “novo”.
  • O novo não é inteiramente diferente do que veio antes e guarda uma identificação com o velho e compartilha algumas de suas características, mas ele já não é mais o mesmo, pois mudanças importantes aconteceram.
  • Karl Marx enxerga as sociedades, e a própria natureza, como uma composição entre o novo e o velho, entre forças contrarias que se completam e cooperam uma com a outra. Marx pensa a história da humanidade como fruto da solidariedade e do enfrentamento. Para Marx a história da humanidade é a história desse embate contraditório entre o velho e o novo, entre o interesse do que já é e o interesse dos que ainda estão por vir.
  • Com isso Marx apontava o caráter transitório, mostrando que nada é estático e nada é para sempre.

2 - TRABALHO COMO FORMA CRIATIVA DE AGIR NO MUNDO

  • Marx concebe os seres humanos como animais sociais, porque sempre dependemos da cooperação uns dos outros.
  • Mas se somos animais sociais, somos também animais eternamente insatisfeitos e estamos sempre necessitando ou desejando algo.
  • É na busca da satisfação dessas necessidades e desejos que os seres humanos transformam suas vidas e o mundo ao seu redor.
  • E é com o trabalho (seja remunerado ou não) que o ser humano agem no mundo.
  • Nós seres humanos somos únicos animais que trabalham, pois somente nós agimos de forma criativa no mundo.
  • É por intermédio do trabalho que o ser humano acrescenta um mundo novo, o da cultura, ao mundo natural já existente.
  • O trabalho é uma atividade tipicamente humana, porque implica a existência de um projeto mental que modela uma conduta a ser desenvolvida para se alcançar um objetivo.
  • O que distingue o trabalho de um arquiteto humano para uma abelha que produz a sua colmeia é que o arquiteto projeta mentalmente a construção antes de realiza-la, ao contrario da abelha que age por instinto.
  • Nos, seres humanos, não apenas nos adaptamos as condições biológicas, mas interferimos racionalmente na natureza, seja para o bem, seja para o mal.
  • E foram nessas ações humanas de suprir as suas necessidades e os seus desejos que a sociedade passou por inúmeras transformações ao longo do tempo.
  • Essas transformações mudaram não somente a nossa forma de viver como também a forma como nos relacionamos com os outros indivíduos.
  • Karl Marx recorra ao exemplo das “sociedades primitivas” para contar a historia dessas transformações que, segundo ele, marcariam a evolução da humanidade.


3 - O NASCIMENTO DA PROPRIEDADE PRIVADA: A ORIGEM DA DESIGUALDADE

  • Os homens e mulheres das “sociedades primitivas”, como todos os seres humanos, apresentavam necessidades primárias – como abrigo, alimentação e reprodução – e para suprir tais necessidades eles desenvolveram um sistema de cooperação harmônico.
  • No sistema de cooperação harmônico só era produzido aquilo que a comunidade consumiria naquele dia.
  • Produzindo somente aquilo que poderia ser consumido diariamente evitaria os excedentes, ou seja, que ficassem acúmulos.
  • Por essas sociedades não produzirem mais que o necessário, não existia nelas excedentes que pudessem ser apropriado por uns e não por outros.
  • Assim sendo, não existiam superiores ou inferiores, não havia antagonismo e conflito de interesses.
  • Porém, com o passar dos tempos, os seres humanos aprimoraram suas ferramentas e suas técnicas de produção e com isso se tornaram capazes de produzir em uma quantidade maior.
  • Com o aumento da produção, as sociedades começaram a acumular.
  • Nessa nova sociedade que surgia as necessidades primarias eram atendidas e existia um excessos de produção.
  • Nesse contexto começaram a surgir novas necessidades – uma alimentação mais requintada, uma casa maior, um parceiro mais interessante.
  • O grande problema é que esses excedentes para serem divididos igualmente para todos.
  • Em algum momento da nossa historia, alguns indivíduos resolveram se apropriar desses excedentes em detrimento dos demais.
  • Esse seria o principio da propriedade privada e, segundo Marx, estaria ai a origem da desigualdade entre os homens e dos principais males do mundo.
  • Isso teria dividido a sociedade em grupos antagônicos: os possuidores e os não possuidores.
  • Marx era ferrenho crítico à propriedade privada e se inspirou no filosofo francês Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778) para quem os males que se seguiram na história da humanidade - como crimes, guerras, mortes, misérias e horrores – teve sua origem na criação das propriedades privadas.

O primeiro que, tendo cercado um terreno, atreveu-se a dizer: Isto é meu, e encontrou pessoas bastante simples o suficiente para acreditar nele, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras, assassínios, quantas misérias e horrores não teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, houvesse gritado aos seus semelhantes: Evitai ouvir esse impostor. Estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos, e que a terra não é de ninguém!”.Jean-Jacques Rousseau


4 - A TRANSFORMAÇÃO DA COOPERAÇÃO HARMÔNICA EM COOPERAÇÃO ANTAGÔNICA 

  • Quanto mais alguns indivíduos acumulavam excedentes, eles iam criando espaço para acumular mais bens, mais terras, mais moedas e, consequentemente, mais poder.
  • Se uns tem mais do que os outros, uns mandam e os outros obedecem.
  • Apesar dessa relação de exploração, ainda existe uma cooperação entre o burguês explorador e os proletários explorados.
  • Mas essa cooperação não ocorria mais de forma harmônica (onde não existiria um empregador e todos seriam trabalhadores e que trabalhariam juntos e buscariam o mesmo objetivo, onde todos seriam beneficiados), encontramos agora uma cooperação antagônica, onde temos empregadores e funcionários que trabalham juntos, porém buscam objetivos diferentes, onde somente um dos lados seria beneficiado em detrimento dos interesses do outro.
  • A cooperação das sociedades primitivas deixava então de ser harmônica e torna-se antagônica.


  • Diferenciemos então os dois tipos de cooperação:

a) Sociedades com cooperação harmônica 

  • Na época das sociedades com cooperação harmônica o bem estar coletivo era a regra, onde cada pessoa deveria contribuir com o melhor de sua habilidade e consumir dela apenas a proporção do necessário a si. Nela os meios de produção eram de posse coletiva. Dessa forma os indivíduos exerceriam suas potencialidades em beneficio dos interesses de sua comunidade (como diria Marx: de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades).


b) Sociedades com cooperação antagônica 

  • Os seres humanos continuam dependendo uns dos outros, porém, a divisão do trabalho estabeleceu uma hierarquia, e funda uma desigualdade que opões os que têm e os que não têm. Peguemos como exemplo a sociedade capitalista:
  • Temos de um lado o empregador (burguês), que nesse exemplo seria o dono de uma fabrica de televisões, onde os meios de produção - ferramentas, maquinas, ambiente de trabalho - lhe pertencem. Para que essa empresa funcione e ela possa gerar lucro, o empregador precisa da força de trabalho daqueles que não possuem os meios de produção (a classe trabalhadora ou proletária).  Para fazer com que a sua empresa cresça ainda mais, além do ganho que ele terá com a venda das suas televisões, ele precisará também da mais-valia – ou salario não pago – dos seus funcionários (veremos mais a frente, de forma mais aprofundada, aquilo que Marx definia como mais-valia). Sem o uso da força de trabalho dos seus funcionários e sem a exploração que ele exerce sobre os mesmos, sua empresa quebraria. Os interesses do burguês só seria conquistados com o trabalho alheio, e seu lucro se sustentaria exatamente na exploração dos seus funcionários;
  • Do outro lado encontramos a classe trabalhadora (proletário), que não possui os meios de produção e por isso se vê obrigado a vender sua força de trabalho a algum burguês que tem posse dos tais meios de produção. Estamos em uma sociedade dividida, onde uma pequena parte da população é possuidora dos meios de produção e outra grande parte não possui tais meios. O proletário (que não é possuidor) irá tirar o seu sustento trabalhando em uma empresa que não lhe pertence, usando ferramentas e maquinas que não lhe pertencem. Em troca da sua força de trabalho ele receberá do burguês um salário cujo valor representaria apenas uma pequena parte daquilo que ele produziu com os meios de produção do burguês. Percebemos ai a exploração que o burguês exerce sobre os seus funcionários. Porém, sem o uso dos meios de produção do burguês o proletário não conseguiria tirar o seu sustento. Assim sendo, para atingir seus objetivos a classe trabalhadora se encontra diante de tais opções:

- aceitar vender sua força de trabalho ao burguês e trabalhar em uma longa e extenuante jornada em troca do salário que o burguês definir;
- especializar-se no trabalho para que possa aumentar o seu salário e diminuir um pouco a exploração da qual sempre será vitima;
- procurar conscientizar toda a população despossuída e o próprio burguês do quanto que o capitalismo é injusto, convencendo ambos de que a posse coletiva dos meios de produção traria mais benefícios para sociedade, onde ocorreria um bem estar coletivo (socialismo utópico);
tomar, por meio da força, esses meios de produção da burguesia. (socialismo científico marxista).

5 - As classes sociais 

  • Seria dessa divisão do trabalho (empregadores possuidores dos meios de produção e empregados sem posse dos mesmos meios) que, segundo Marx, se originam as classes sociais (que, no caso do capitalismo, seriam a burguesia e o proletariado).
  • A luta de classes marca toda a história da humanidade e Karl Marx firma ainda que os dramas históricos tem como ator principal essas classes sociais.
  • Para Marx, a base da ordem social de todas as sociedades reside na produção de bens, na organização econômica.
  • O que é produzido, como é produzido, e como os bens são trocados é o que determina as diferenças de riqueza, de poder e de status social entre as pessoas.
  • Segundo Marx, é a classe social da qual fazemos parte que nos define.
  • A divisão da sociedade em classes da origem a diferentes percepções políticas, éticas, filosóficas e religiosas.
  • Essas percepções e visões de mundo – a ideologia no vocabulário de Marx – tendem a consolidar o poder e a autoridade da classe dominante.
  • Marx defendia que os dominados devem sempre desafiar o poder e a autoridade das classes dominante, mas para isso seria preciso primeiro que houvesse uma “tomada de consciência” por parte da classe dominada.




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Referências:

LIVROS

ANDERSON, Perry. Considerações sobre o Marxismo Ocidental. 2ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1989.

BOMENY, Helena; FREIRE-MEDEIROS, Bianca. Tempos modernos, tempos de sociologia. São Paulo: Editora do Brasil, 2010. p. 58-65. (Coleção Aprender Sociologia)

CATANI, frânio Mendes Catani. O Que é Capitalismo. 19ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1991. (Coleção Primeiros Passos).

COGGIOLA, Osvaldo. Movimento e Pensamento Operário Antes de Marx. São Paulo: Brasiliense, 1991. (Coleção Tudo é História).

COSTA, Cistina. História: Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 4ª ed. São Paulo: Moderna, 2010. p.60-70.

COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia: história e grandes temas. 16ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

DOWBOR, Ladislau. O Que é Capital. 9ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1991. (Coleção Primeiros Passos).

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O Manifesto Comunista. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. São Paulo: Martin Claret, 2005. (Coleção A Obra-Prima de Cada Autor).

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos das Desigualdades entre os Homens. São Paulo: Martin Claret, 2005. (Coleção A Obra-Prima de Cada Autor).

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social. São Paulo: Martin Claret, 2005. (Coleção A Obra-Prima de Cada Autor).

SPINDEL, Arnaldo. O Que é Comunismo. 10ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1991. (Coleção Primeiros Passos).


SITES



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