segunda-feira, 2 de março de 2015

[Filosofia] LIBERDADE E RESPONSABILIDADE - FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO (Slides 2 anos)


- Aforismo: sentenças breves, carregadas de significados, que tem como finalidade provocar o interlocutor ou sugerir algo, em vez de apresentar-se uma ideia acabada.
- O homem está condenado a ser livre.
- Sartre considera que o homem não é definível a priori, porque, para começar, ele não é nada. Cada ser humano só será alguma coisa mais tarde e, então, será aquilo que fizer de si mesmo.

O ente e o ser

Como já estudado em Platão, os objetos que se apresentam diante de nossos sentidos nos enganam, ocultando-nos seu verdadeiro sentido, sua essência. De acordo com essa concepção, os objetos que nos cercam, segundo Heidegger (1889 – 1976), podem ser caracterizados como entes.

Os entes ocultam o ser, a essência, aquilo que a coisa é. As coisas mudam, transformam-se; o ser é aquilo que permanece inalterado e estável, mesmo com o passar do tempo.

Fenomenologia


Durante o século XIX, o desenvolvimento do conhecimento científico na área biológica, impactou as ciências humanas e fez com que diversos pensadores buscassem estabelecer um estatuto científico para o seu campo do saber.

Marx desenvolveu suas ideias afirmando a existência de leis da História, que lhe permitiram prever o advento do socialismo, e que levou Engels a definir o marxismo como um “socialismo científico”.

Nesse contexto, o alemão Edmund Husserl (1859 – 1938), buscou estabelecer critérios mais rígidos para a formulação do pensamento filosófico. Husserl transpõe os limites da Filosofia, renovando o pensamento, funda assim, a Filosofia contemporânea, buscando reconstruir a Filosofia.

Partindo da tentativa de superação da oposição entre idealismo e empirismo chegou à ideia de que não há separação entre a consciência e as coisas, pois a consciência só tem sentido na medida em que percebe o mundo. Os próprios objetos, só existem porque há uma consciência que os percebe.

“Toda consciência é a consciência de alguma coisa”. Husserl

Assim, os objetos ou atos se apresentam diante dela (consciência) como fenômenos. O conhecimento do fenômeno baseia-se, sobretudo, em uma “maneira de ver”, o que, por sua vez, implica a necessidade de um método, este chamado de fenomenologia

A consciência é intencional, ou seja, o modo pela qual a consciência visa as coisas. A consciência tem a intenção das coisas. Ela permite que percebamos a significação das coisas e dos atos partindo dessa inter-relação entre consciência e objetos ou atos. A consciência não possui conteúdos, mas opera com os “fenômenos” que a ela se apresentam.

A fenomenologia reconsidera todos os conteúdos da consciência.

Para Husserl, era necessário purificar a relação entre sujeito e objeto de modo que a nossa relação com as coisas seja mais verdadeira.

Sartre era contemporâneo de Husserl e escreveu sobre sua teoria, em seu primeiro artigo sobre a fenomenologia de Husserl, Sartre destaca a vanguarda do pensamento de Husserl e postula que, consciência e mundo surgiriam simultaneamente, o mundo surge para consciência ao mesmo tempo em que escapa dela. Exemplo: se eu vejo uma árvore, eu a vejo onde ela está eu não preciso que ela entre na minha consciência para que eu a perceba, nem muito menos preciso que a minha consciência se perca nela, ou seja, não se pode sem desonestidade comparar o conhecimento com a posse, conhecer não é apoderar-se das coisas.

O ato de apreender as coisas deve ser a assimilação das coisas pelo sujeito que as percebe.

Em suma, a fenomenologia é uma corrente filosófica do século XX que visa estabelecer um método para fundamentar a ciência e a Filosofia como ciência rigorosa. Propõe um percurso em direção ao fenômeno (aquilo que aparece a consciência). Para a fenomenologia, a consciência é intencional, é sempre consciência de alguma coisa, é o modo pelo qual o objeto de dá a conhecer.


RESUMINDO:

- Não há separação entre a consciência e as coisas. 

- Toda consciência é consciência de alguma coisa. (consciência de...)

- O mundo e todos os seus entes somente existem porque temos consciência deles.

- Aquilo que não temos consciência não existe.

- Eu sou consciente dela enquanto ela continua existindo fora de mim.

- A consciência não cria os objetos do mundo e também não os percebe como exatamente são.

- A consciência é intencional, ela permite que percebamos o significado das coisas.

- A consciência opera a partir dos fenômenos que ela observa. Por isso, é importante “educar” a consciência a partir do método.

Leia mais sobre o pensamento fenomenológico de Husserl clicando aqui, aqui e aqui.


Existencialismo


O francês Jean-Paul Sartre (1905-1980) foi influenciado pela fenomenologia de Husserl, haja vista uma de suas concepções mais importantes: “a existência precede a essência”. Assim, em vez de pressupor uma essência que deve ser desvendada pelo pensamento, caberia à Filosofia debruçar-se sobre as coisas conforme elas existem.

Sartre dizia inventamos a consciência como compartimento, como refugo, no qual nós nos escondemos para nos salvar do mundo exterior. No fim das contas tudo está fora e até nós mesmos estamos fora de nós mesmos. Não é em nenhum refúgio que nós vamos nos descobrir nós vamos nos descobrir na rua, na cidade, no meio da multidão, coisa entre coisas, homem entre homens.

O existencialismo de Sartre aponta que o primeiro passo da Filosofia dever ser restabelecer a verdadeira relação entre a consciência e o mundo. A consciência como consciência posicional do mundo.

Jan-Paul Sartre

Qualquer filosofia que se queira autêntica, que queira restabelecer a relação sujeito objeto autenticamente, teria que expulsar as coisas da consciência, para então recuperar a consciência como esse vazio, como esse movimento que ele chama de consciência posicional, essa consciência significa que ela sendo consciência de alguma coisa, ela sempre posiciona os objetos e se posiciona frente a eles.

Sartre vai desenvolver na sua filosofia todo um pensamento baseado nessa oposição entre a consciência como esse vazio, e as coisas na densidade que as caracteriza.

A consciência, esse nada, esse vazio, Sartre chamará de ser-para-si (o homem dotado de consciência).

E o ser denso, todo fechado, todo maciço, ele chamará de ser-em-si (coisas físicas, da natureza).

Não somos um “segredo” a ser desvendado ou uma mente a ser descoberta, pelo contrário, nossa consciência, é um vazio, um NADA, que precisa ser preenchido.

Para Sartre, a liberdade é essa possibilidade de agir que todos temos, em todas as circunstâncias.

“O homem sendo condenado a ser livre, carrega o peso do mundo inteiro sobre seus ombros, é responsável pelo mundo e por si mesmo enquanto maneira de ser”

A liberdade em Sartre não é um atributo do sujeito, nós somos livres para tudo, menos para deixarmos de sermos livres. O sujeito é livre para qualquer opção, menos para deixar de opinar.

A consciência do Nada que somos, bem como a necessidade de exercer a liberdade sem diretrizes preestabelecidas, gera angústia, que caracteriza a condição humana. Muitos tentam fugir dessa situação, o que acarreta em má-fé, caracterizada pela dissimulação ou autoengano.

De acordo com Sartre, o indivíduo é determinado pela história, mas ao mesmo tempo ele é responsável pela história. E dessa responsabilidade/liberdade ele não pode abdicar, se o fizer significa hipotecar a sua liberdade, posição essa que o Sartre acha de má-fé, ou seja, eticamente duvidosa.

Quem abdica da liberdade não comete apenas um deslize ético, ele comete um traição a si próprio. (p.19 – exemplos)

Nossa liberdade não é propriamente uma liberdade, e sim uma libertação, nós não somos livres. Nós somos livres para nos libertarmos, ou para tentar nos libertarmos.

A relação com o outro

Nós somos aquilo que fazemos com o que fazem de nós.

A consciência e o sujeito não é coisa alguma, ele é aquilo que ele se faz.

Existir não é algo da ordem o ser, mas é algo relacionado com o processo, com essevir a ser, com esse tornar-se.

Transcender-se é um elemento essencial para o existencialismo que é o projeto, aquilo que cada um projeta ser.Um projeto é aquilo que não é, nós somos aquilo que ainda não somos, somos sempre aquilo que projetamos ser.

A liberdade é o centro da filosofia existencialista, esse constante projetar-se, esse constante transcender-se, não é outra coisa se não a liberdade.

Exercendo sua liberdade, cada homem define quem é. Ao mesmo tempo, entra em contato com outros homens, também dotados de liberdade e que podem ser “a favor” ou “contra” mim. O mundo da existência é o mundo da intersubjetividade, da relação entre sujeitos. Não apenas o percebemos, mas somos percebidos pelo seu olhar. Nessa relação, que não se limita ao olhar, mas inclui a experiência corporal como um todo, buscamos aceitação: queremos mostrar apenas o que consideramos o melhor em nós. Porém o olhar do outro pode ser cruel, na medida em que tem a capacidade de desvendar nossas falhas ou limitações.

“O inferno são os outros”. Precisamos do Outro para sabermos quem somos, mas o Outro acaba por desvendar quem não queremos ser.

Essa dependência pode nos levar a abrir mão da liberdade, e quem vive em função da busca de aprovação do Outro acaba vivendo um “inferno”.

O sentido ético da Filosofia de Sartre é a existência construída a partir dos atos. Sua visão de liberdade inclui o princípio da responsabilidade, enfatizando que devemos responder pelas nossas ações e somos os únicos responsáveis por elas. A omissão ou o silêncio diante, por exemplo, da injustiça significa o próprio esvaziamento da existência.

Em suma, o existencialismo é uma corrente filosófica do século XX fundada na ideia de que a existência humana está ligada à liberdade. Desde que nasce, o home é livre e responsável, e está condenado a criar seus próprios valores.

Leia mais sobre o pensamento existencialista de Sartre clicando aqui.


Referência

COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia: História e grandes temas. São Paulo: Saraiva, 2006.

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