- A reação conservadora resultante do Congresso de Viena e da Santa Aliança, assinada entre Áustria e Russia com o apoio da Inglaterra, não consegue impedir que os ideais revolucionários continuem a se expandir. Por volta de 1830 ressurge na Europa o processo de revoluções liberais que começa com a independência dos Estados Unidos em 1776 e tem seu auge na Revolução Francesa em 1789. Além dos princípios liberais, as revoluções de 1848 incorporaram as lutas do proletariado.
- O presente texto visa mostrar como o movimento revolucionário de 1848 traduz as insatisfações dos trabalhadores pobres com a ordem vigente, derrubando os monarcas que representavam o Antigo Regime, amparados pelo legado da Revolução Francesa. Além disso, também revela que havia na Europa uma abertura para a entrada de ideias socialistas e comunistas, condensadas por Marx e Engels, e que seriam no seculo XIX a base de oposição às transformações burguesas.
- Também serão apresentados alguns artistas partidários ou observadores das revoluções de 1848. As abordagens históricas que aqui serão apresentadas são consideravelmente suficientes para um primeiro contato para fim de conhecer a história das ideias e das revoluções do ano de 1848.
A Primavera dos Povos (1848)
1 - EXPLOSÕES REVOLUCIONARIAS
- O ano de 1848 foi marcado por explosões revolucionarias na Europa que vieram a ficar conhecidas como "Primavera dos Povos". Nas cidades mais importantes da França, do Império Austro-Húngaro, dos estados alemães e de outras regiões, a população ergueu barricadas, enfrentou tropas opressoras e chegou a derrotá-las. Aliados aos liberais, os nacionalistas também demonstravam sua insatisfação, propondo mudanças na natureza do Estado.
- A urbanização advinda da Revolução Industrial teve efeito surpreendente sobre essas rebeliões. Novas e amplas avenidas proporcionavam um espaço ideal para o que se tornou um aspecto mais importante dos movimentos populares: as manifestações em massa. As aglomerações se transformaram em marchas populares que se estendiam pelas avenidas.
2 - MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA
- A crise econômica que assolava a Europa, acentuada por pragas e pela seca, prejudicou os camponeses, levando-os às ruas em apoio às novas idéias que se baseavam nas ideias socialistas.
- Um marco decisivo para a divulgação dessas ideias foia a publicação, no ano de 1848 (ano das barricadas, das rebeliões democráticas, liberais e nacionalistas) do Manifesto do Partido Comunista, escrito por Karl Marx e Friedrich Engels e logo traduzido para vários idiomas. O Manifesto Comunista fez a humanidade caminhar, não em direção ao paraíso mas na busca (raramente bem sucedida, até agora) da solução de problemas como a miséria e a exploração do trabalho. Rumo à concretização do princípio, teoricamente aceito a 200 anos, diz que "todos os homens são iguais". E sublinhando a novidade que afirmava que os pobres, os pequenos, os explorados também podem ser sujeitos de suas vidas.
- Por isso é um documento histórico, testemunho da rebeldia dos seres humanos. Seu texto, racional, aqui e ali bombástico e em diversas passagens irônico, mal esconde essa origem comum com homens e mulheres de outros tempos: o fogo que acendeu a paixão da Liga Comunista, reunida em Londres no ano de 1847, não foi diferente do que incendiou corações e mentes na luta contra a escravidão clássica contra a servidão medieval, contra o obscurantismo religioso e contra todas as formas de opressão.
- Esse manifesto defendia que a finalidade imediata dos comunistas consistia em por fim à dominação burguesa, que oprimia os menos favorecidos roubando-lhe sua força de trabalho através da mais-valia e da propriedade privada dos meios de produção, o que tirava do trabalhador a sua ferramente de trabalho, fazendo deles um escravo das ferramentes de trabalho do burguês proprietário, buscando assim perpetuar a exploração de uma minoria burguesa sobre a gigante maioria de trabalhadores assalariados. Esse manifesto incitava or proletários a lutar pela conquista do poder político. Assim, os operários que lutavam nas barricadas passavam a contar com novos fundamentos para a sua intervenção.
3 - REVOLUÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO
- O mundo da década de 1840 indicava um panorama de inevitáveis mudanças, onde crises de dimensões contornáveis em Estados como a Inglaterra, tomaram proporções acima do esperado na França e em outras monarquias da Europa Central, e que resultaram em movimentos revolucionários.Despertaria o movimento revolucionário, entre outros: o choque entre governantes e assembleias legislativas na Hungria e na Prússia uma guerra civil entre radicais e católicos na Suíça; uma séria insurreição em Palermo Sicília e Galícia. Na frança, centro irradiador do movimento, a proibição de uma campanha em favor da ampliação do direito de voto provocou manifestações que forçaram o rei a demitir seu ministro (Guizot). Ocorrem diversos conflitos com os soldados e a partir de 24 de fevereiro a revolução já toma Paris Alcançaria a Bavária (6 de março), Berlim (11 de março), Viena (13 de março), Hungria (13 de março) e Milão (18 de março).
- É preciso chamar atenção para o sentido heterogêneo dessas revoluções, Na França é possível observar um conteúdo essencialmente político e social, mas em outros lugares também estava presente a forma ou existência destes Estados: na Itália, a questão girava em torno da unificação e na Alemanha havia dúvida entre o unitarismo e o federalismo.
- Karl Marx observou que a Revolução de Fevereiro foi um ataque surpresa, e apanhou desprevenida a velha sociedade: porém, o que se ganhou facilmente também foi entregue da mesma maneira (Marx: 1968). Na França, a contra ofensiva começou a reverter a situação quando em abril são eleitos grande numero de conservadores através do sufrágio universal, e ganhou força em julho, com a saída dos moderados, deixando os trabalhadores isolados. Na Europa Central, a contra-revolução se fortaleceu em junho, apos a fuga do imperador Habsburgo, derrotando a insurreição em Praga. Na Itália e na Hungria, o movimento se estendeu um pouco mais devido sua associação à questões de libertação nacional, mas caem em agosto de 1849.
- A derrota viria inevitavelmente, em parte porque a base do movimento era constituída por trabalhadores pobres, ainda sem organização, maturidade e liderança - eram fortes para um projeto de revolução social, mas não puderam fazer nada mais que assustar seus inimigos. A isso se soma o abandono do movimento por parte dos moderados num momento de grande fragilidade; estes, ao perceberem que se colocava em questão a ordem social e a propriedade privada, adotaram um discurso conservador.
- É necessário dizer que com a saída da burguesia, ficou evidente que o confronto não era entre o Antigo Regime e as forças do progresso, mas entre a ordem estabelecida e a revolução social.
barricadas passavam a contar com novos fundamentos para a sua intervenção.
4 - CONTRADIÇÕES: DUAS CLASSES ANTAGÔNICAS
- A verdade é que as diferentes manifestações revolucionarias da Primavera dos Povos tiveram muitos pontos em comum: o estilo e os sentimentos românticos, as barricadas, as bandeiras coloridas, o ideal de liberdade - e uma grande dose de otimismo e também de ingenuidade.
- A realidade se encarregaria de desfazer essas ilusões otimistas. O gosto da vitoria não adoçou a boca dos militantes por mais de alguns meses, com exceção da França. O aspecto que talvez possa explicar as sucessivas derrotas dos insurretos é a estreita ligação dos trabalhadores miseráveis com os movimentos revolucionários, como afirmou o historiador Eric Hobsbaw. Foram os trabalhadores pobres que lutaram nas barricadas, foram a fome e a miséria que alimentaram o espirito de mudança das sociedades, transformando os movimentos de rua em revoluções.
- Foram notórias as diferenças de mentalidade e de desejo entre os participantes das mobilizações de 1848. Diante de eventuais confrontos diretos com os movimentos de extrema-esquerda, a burguesia preferia a manutenção da "ordem", uma vez que ficaria assim garantido o seu direito a propriedade. Os moderados liberais e os conservadores acabaram por se unir diante do "perigo vermelho", representado pelos movimentos de tendências socialistas. Os radicais democratas insistiam na solidariedade aos trabalhadores, embora ao mesmo tempo não escondessem suas simpatias à propriedade privada e pelo capital.
5 - A PARTICIPAÇÃO DOS INTELECTUAIS NA REVOLUÇÃO DE 1848
- A arte moderna constituiu uma ruptura espiritual e cultural com antigas tradições, em movimentos quase revolucionários. Esse movimento de rupturas causado pelas revoluções de 1848 também é visível nas artes. Em 1848 houve uma coincidência, ao culminar um momento de tensão idealista e politico-econômica na França.
- A Revolução de 1848 tem uma base intelectual, e é o primeiro momento que a intelectualidade participa efetivamente de uma revolução. Este é o momento que descontentamento e esperança chegam, ao mesmo tempo, ao ponto máximo. Ao crer numa situação insustentável, e ao mesmo tempo numa possibilidade de resolução dos problemas, foi impossível para a maioria dos intelectuais não participar das lutas.
- Este é o momento de máxima maturação dos ideais da grande revolução, de povo e liberdade, , quando surgem os conceitos do socialismo, comunismo, anarquismo e liberalismo. O espirito dessa época não permitia ser indiferente aos problemas do povo.
- O próprio poeta francês Baudelaire foi visto pegando em armas. e disse ser pueril a teoria da arte pela arte. Não cabia mais uma arte não engajada. O intelectual, por entender as questões e os problemas da sociedade, seria obrigado a participar das soluções. Era preciso compromisso e não se podia admitir mais a arte supérflua. Havia a ideia de que o artista pertence ao seu tempo, como definiu Hegel, e nessa consciência está o seu valor. A realidade passou a ser o único problema do artista, do escritor ou intelectual.
- Essa direção objetiva desse momento é defendida por Goethe, O conteúdo das obras passou a ser a realidade histórica. Segundo Hegel é o conteúdo que define a obra humana. Para Victor Hugo, em 1830, o horizonte da arte havia se ampliado e Delacroix pintou "A Liberdade Sobre as Barricadas", um quadro político.
"A Liberdade sobre as Barricadas". Quadro de Engène Delacroix. |
- Houve nesse momento uma "unidade histórica, política e cultural das forças burguesas-populares em torno de 1848. Nos trinta anos que precedem 1848 se intensifica a participação dos intelectuais na vida da sociedade e essa participação chega ao ápice em 1848, quando eles chegam mesmo a pegar em armas. Esse processo decai depois disso, chegando ao seu fim, tragicamente, em 1871, na Comuna de Paris. Foi o ultimo momento de participação da intelectualidade numa expressiva ação política, embora em menor escala que em 1848.
6 - UM EPISODIO HISTÓRICO DE GRANDE IMPORTÂNCIA
- As revoluções da Primavera dos Povos foram desencadeadas e vencidas em um espaço minimo de tempo. Mas não se pode negar que, em seu conjunto, tenham configurado um episódio histórico de grande importância. Se os objetivos alcançados estiveram longe do pretendido pelos revolucionários, eles foram no entanto profundos. O fim da política de tradição, das monarquias na Europa ocidental, que acreditava na Teoria do Direito Divino pelos seus súditos, resultou dessas revoluções fracassadas.
- Em outras palavras, todos os acontecimentos políticos da primeira metade do século XIX, até mesmo as revoluções derrotadas, influenciaram na consolidação da sociedade burguesa.
- Assim podemos concluir a complexa teia de relações existente nos anos anos de revolução, onde discutimos suas causas e suas ideias, tornando a abordagem sociológica vasta e multifacetada. Cabe a nós como conclusão imaginar, com as evidencias expostas nos objetivos e nas conclusões dessa revolução, a necessidade por uma liberdade política e uma emancipação de todas as classes sociais e a participação delas nas questões estatais, antes creditadas apenas às pouquíssimas mãos nobres da monarquia.
- Cabe-nos também não nos esquecermos que mesmo após o advento da Primavera dos povos, o "povo" de fato não foi seu grande beneficiário Sendo que, se antes das revoluções burguesas o poder se centrava nas mãos da nobreza, após essa a classe opressora só mudou de nome, passando a ser a burguesia a detentora do poder.
RESUMÃO
- Com o fim da era napoleônica, as monarquias europeias se reuniram com o objetivo de conter as propostas de transformação disseminadas pela Revolução Francesa.
- Tal encontro aconteceu no chamado Congresso de Viena, momento em que parte dos monarcas que ali se encontravam decidiu formar a chamada Santa Aliança.
- Nesse acordo, diversos monarcas se comprometiam a auxiliar militarmente toda monarquia que tivesse sua autoridade ameaçada.
- Contudo, esse projeto que deveria preservar o Antigo Regime não foi capaz de conter a marcha das novas revoluções que tomariam conta da Europa.
- No ano de 1848, as várias novas correntes políticas que surgiam em todo o Velho Mundo se mostraram decididas a dar fim ao regime monárquico.
- Em linhas gerias, o contexto político europeu se via tomado não só pelas propostas liberais oriundas da experiência francesa, mas também contou com a ascensão das tendências nacionalistas e socialistas.
- Um pouco antes que tais levantes acontecessem, entre os anos de 1846 e 1848, uma seqüência de péssimas colheitas provocou uma crise econômica responsável pela elevação súbita do preço dos alimentos.
- Concomitantemente, a queda no consumo dos produtos industrializados motivou a demissão de operários nos centros urbanos.
- De fato, toda a economia capitalista européia enfrentava um delicado processo de estagnação que daria origem aos levantes que marcaram a chamada “Primavera dos Povos”.
- Reagindo a esse quadro desfavorável, membros do operariado e do campesinato passaram a exigir melhores condições de vida e trabalho.
- Aproveitando das novas tendências que surgiam, fizeram uma forte oposição ao regime monárquico por meio de uma série de levantes.
- Alimentando ainda mais esse sentimento de mudança, devemos ainda salientar que nesse mesmo ano houve a publicação do Manifesto Comunista, obra do pensador Karl Marx que defendia a mobilização dos trabalhadores.
- Comungando da união exprimida por esse livro, várias cidades foram tomadas por barricadas de trabalhadores que se espalhavam por cidades da França, dos Estados Alemães, da Áustria e outros grandes centros urbanos.
- Apesar dos ideais românticos e das bandeiras coloridas em favor de uma sociedade mais justa, a “Primavera” não conseguiu transformar definitivamente a Europa.
- Contudo, demonstraram a nova articulação política que estava sendo engendrada.
- A partir desse evento histórico, a sociedade burguesa teve alguns de seus princípios assegurados, pois mesmo tendo caráter popular, essas revoltas não abririam mão das concepções favoráveis à igualdade civil, ao fim dos privilégios de ordem feudal, as novas instituições jurídicas e o acesso aos cargos públicos.
- Além disso, demonstrava para a nova ordem burguesa o potencial de mobilização das classes trabalhadoras em torno de seus interesses e projetos políticos próprios.
Antecedentes
- Com a Revolução de 1830, a França passa a ser governada por Luis Felipe, que se mostra um rei liberal e ligado a burguesia.
- No entanto, mais ao final de seu governos, Luis Felipe, ajudado por seu ministro Guizot, começa a tomar medidas conservadoras como proibir a liberdade de imprensa e expressão.
- Incomodada, a população começa a organizar banquetes, nos quais secretamente era discutido política, economia e outros assuntos proibidos pelo rei.
Estopim
- Guizot, descobre um banquete marcado para fevereiro de 1848, no qual seriam discutidas suspeitas de corrupção do próprio Guizot, e o proíbe. Indignada a população se revolta.
Conclusão
- Em uma reação violenta, a população consegue a abdicação de Luis Felipe, e instaura um governo provisório, a II República Francesa.
- Várias ideologias participavam desse movimento. E o governo provisório, pressionado pelo proletariado, toma algumas medidas sociais, como combate ao desemprego, e por isso esse pequeno período do governo é chamado de República Social.
- A população embora fosse a favor de medidas sociais, temia uma radicalização por parte do proletariado, e quando ocorre as eleições para câmara os burgueses ganham. Isso gera grande insatisfação do operariado, que tenta se revoltar mas é duramente reprimido.
- Nas eleições presidenciais, Luís Bonaparte, aproveitando-se da fama de seu tio Napoleão Bonaparte, é eleito com maioria dos votos. Instaurando um governo totalmente liberal e burguês.
- A burguesia, temendo que, nas eleições futuras, um governo que não a favorecesse fosse eleito, incentiva Luis Bonaparte a dar um golpe de estado, se declarando imperador. Esse golpe, ocorrido em 1852, fica conhecido como ” 18 brumário de Luis Bonaparte” e assim Luis se denomina Napoleão III
- Esses movimentos marcam definitivamente a ruptura com o antigo regime/Congresso de Viena e logo se espalham por toda Europa, significando um novo modelo de revolução, incentivando os ideais de nação e nacionalismo.
- Incentivou a unificação Italiana e Alemã, e diversos movimentos em outros países.
- Seu aspecto global e sua curta duração deram a essa revolução o apelido de Primaveram dos povos.
- É a marca definitiva do fim do Congresso de Viena, e da ruptura entre burguesia e proletariado.
Referências:
Livros
HOBSBAWN, Eric J. A Era das Revoluções (1789-1848). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002, 16ª ed., cap. XVI, pp 409-423
HOBSBAWN, Eric J. A Era do Capital (1848-1875). Rio de Janeiro: Paz e Terra Paz e Terra, 2002, 9ª ed., cap. I, pp 27-50
MARX, Karl; ENGELS, Friederich. O Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Cortez, 1998.
HOBSBAWN, Eric J. A Era do Capital (1848-1875). Rio de Janeiro: Paz e Terra Paz e Terra, 2002, 9ª ed., cap. I, pp 27-50
MARX, Karl; ENGELS, Friederich. O Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Cortez, 1998.
TROTSKY, Leon; BRETON, André. Por Uma Arte Revolucionária. São Paulo: Cortez, 1998.
Sites
2 comentários:
Texto execelente , parabéns!!
muito bom! Parabéns :)
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