segunda-feira, 24 de novembro de 2014

[GEOGRAFIA] BRASIL: A DIVERSIDADE ÉTNICA


O Brasil é um país com grande diversidade étnica, sua população é composta essencialmente por três principais grupos étnicos: o indígena, o branco e o negro. Os indígenas constituem a população nativa do país, os portugueses foram os povos colonizadores da nação e os negros africanos foram trazidos para o trabalho escravo. 

Esse contexto proporcionou a miscigenação dos habitantes do Brasil, caracterizados como mulato (branco + negro); caboclo ou mameluco (branco + índio); cafuzo (índio + negro). Com o prosseguimento da miscigenação, originaram-se os inúmeros tipos que hoje compõem a nossa população.


1. OS INDÍGENAS 


- Antes da chegada dos portugueses ao território que viria a ser o Brasil, diversos grupos indígenas habitavam o nosso espaço. Esses grupos foram estimados entre 2 a 4 milhões de indivíduos, distribuídos em mais de mil diferentes tribos. Possuíam características próprias de organização social, línguas, crenças, técnicas de coleta, caça, pesca e cultivo agrícola.

- Hoje, alguns grupos indígenas vivem isolados, outros em reservas ou nas cidades, muitos em precárias condições de vida. Os grupos indígenas continuam lutando pelos seus direitos e contra o preconceito e o descaso com sua cultura, que ocorrem a despeito da contribuição desses grupos para a formação do povo brasileiro e de seus conhecimentos sobre o meio ambiente, a flora e a fauna do território, acumulados por séculos.

Principais povos indígenas do Brasil na época do Descobrimento 

- Há anos, as pesquisas médicas e farmacêuticas se baseiam nesses conhecimentos para aproveitar as propriedades preventivas e curativas de várias espécies vegetais e animais utilizadas por grupos indígenas, a fim de obter substâncias para elaboração de medicamentos.

- No entanto, os indígenas ainda são vítimas da invasão de suas terras por fazendeiros, garimpeiros, madeireiros, grileiros, entre outros.

Reserva indígenas no Brasil 

- Os índios são formados por povos com hábitos, costumes e línguas diferentes. Os principais grupos indígenas do país são:


a) Ianomâmis


- Os ianomâmis habitam o Brasil e a Venezuela. No Brasil somam cerca de 15 mil pessoas distribuídas em 255 aldeias relacionadas entre si em maior ou menor grau. No Brasil habitam o noroeste de Roraima e o norte do Amazonas.

- As aldeias ianomâmis ocupam a grande região montanhosa da fronteira com a Venezuela, numa área contínua de 9.419.108 hectares. A Terra Indígena Ianomâmi foi homologada pelo presidente Fernando Collor em 25 de maio de 1992. Em sua maior parte o território está coberto por uma densa floresta tropical úmida e é bastante acidentado, principalmente nas áreas próximas às serras Parima e Pacaraíma. O Pico da Neblina, ponto culminante do Brasil, está localizado dentro da Terra Indígena Ianomâmi e do Parque Nacional do Pico da Neblina. Essa área tem sido invadida desde o fim dos anos 1980 por garimpeiros atraídos pelas reservas de ouro, cassiterita e tantalita.

Reserva Indígena Ianomâmi 

- Os ianomâmis falam quatro línguas: yanomam, sanumá, yanomame e yanam. Suas habitações são construídas de caibros encaixados, amarrados com cipó e revestidos de palha. Possuem características seminômades, já que mudam de habitat quando acreditam ter explorado uma região ao máximo. São caçadores e acreditam em rixis - espíritos de animais que ao serem mortos tornam-se protetores e amigos.

Índios ianomâmis 


b) Carajás 


- Os carajás habitam a região dos rios Araguaia e Javaés, nos estados de Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Pará. Dividem-se em trezentos subgrupos que correspondem a três dialetos por eles falados: os carajás propriamente ditos, os javaés e os xambioás, cujos dialetos pertencem ao tronco linguístico macro-jê. Eles se autodenominam inã, que é um termo comum aos três subgrupos. Acreditam na transformação do homem em animais e vice-versa. Residem a maior parte nas proximidades do rio Araguaia, pois acreditam que sua criação, rituais de passagem, alimento e alegria são dados por ele. Vivem do cultivo do milho, mandioca, batata, banana, cará, melancia, feijão e amendoim, e prezam pela pintura corporal. Dividem o trabalho, onde os homens ficam com a defesa do território, abertura de roças, construção de casas, pesca e outros. As mulheres ficam responsáveis pelo trabalho de educar os filhos, cuidar dos afazeres domésticos, do casamento dos filhos, da pintura e ornamentação das crianças, entre outros.

Casal de índios carajás


c) Guaranis


- Os termo guaranis referem-se a uma das mais representativas etnias indígenas das Américas, tendo como territórios tradicionais uma ampla região da América do Sul que abrange os territórios nacionais da Bolívia, Paraguai, Argentina, Uruguai e a porção centro-meridional do território brasileiro.

- São chamados "povos", pois sua ampla população encontra-se dividida em diversos subgrupos étnicos, dos quais os mais significativos, em termos populacionais, são os caiouás, embiás, nhandevas, ava-xiriguanos, guaraios, izozeños e tapietés. Cada um desses subgrupos possui especificidades dialéticas, culturais e cosmológicas, diferenciando sua "forma de ser" guarani das demais.

- Manifestam sua cultura em trabalhos em cerâmica e em rituais religiosos. Possuem sua própria língua, somente ensinam o português às crianças maiores de seis anos. São migrantes e agricultores. Acreditam que a morte é somente uma passagem para a "terra sem males", onde os que se foram partem para este local para proteger os que na Terra ficaram.

Karai Guarani, em Caarapó - MS 


d) Tupis 


- O termo "tupis" possui dois sentidos: um genérico e outro específico. O sentido genérico do termo remete aos índios que habitavam a costa brasileira no século XVI e que falavam a língua tupi. O sentido específico do termo remete aos índios que habitavam a região da atual cidade de São Vicente - SP, na mesma época.

- Os Tupis dividem-se em vários grupos: Tupinambá, Tupiniquim, Tamoio, Temiminó, Tabajara, Potiguara, Caeté, Viatã, Amoipira, Aricobé, Tupinaé ou Tupiná, dentre outros.

- Os Tupis são dominados por um ser supremo designado Monan. A autoridade religiosa dentro das aldeias é o Pajé, que é um sábio que atua como adivinho, curandeiro e sacerdote. Utilizam a música e seus instrumentos de procriação, casamento, puberdade, nascimento e morte, para afastar flagelos, doenças e epidemias e festejar boas caçadas, vitórias em guerras, entre outros.

- Existem cerca de 225 sociedades indígenas distribuídas em todo o território brasileiro, correspondendo a 0,25% da população do país.

Etnias indígenas do Leste-Nordeste brasileiro



2. OS PORTUGUESES E OS OUTROS IMIGRANTES 


- A partir do século XVI,iniciou-se a formação da população brasileira com a chegada dos portugueses e sua miscigenação com os grupos indígenas e negros africanos, trazidos como escravos.

- Nos séculos XIX e XX, esse processo prosseguiu com a chegada de outros povos europeus. Entre os que vieram em maior quantidade estão os italianos - segundo grupo mais numeroso, depois dos portugueses -, espanhóis, alemães, japoneses, sírio-libaneses, russos, poloneses, chineses, coreanos, indonésios, uruguaios, bolivianos, entre outros.

Monumento Nacional ao Imigrante, em Caxias do Sul - RS 


a) Portugueses 


- Colonizadores do território brasileiro por 322 anos, de todos os povos que chegaram no país, os portugueses foram os que mais exerceram influência na formação da cultura brasileira. Durante todo o período de colonização cidadãos portugueses foram transportados para as terras sul-americanas, influenciando não só a sociedade que viria a se formar, como também as culturas dos povos que já existiam.

- A mais evidente herança da cultura brasileira é a língua portuguesa, atualmente falada por todos os habitantes do país. Outros legados culturais são a religião católica, os folguedos populares, as figuras do folclore, a culinária e a introdução de movimentos artísticos como o renascentismo e o neoclassismo.

Ouro Preto - MG. Patrimônio Histórico e Cultural de origem portuguesa no Brasil 


b) Italianos 


- A imigração italiana para o Brasil foi um dos maiores fenômenos imigratórios já ocorridos. À medida que o número de imigrantes e seus descendentes ia crescendo, o Brasil modificava os seus costumes, assim como os imigrantes modificavam os seus. Das inúmeras contribuições culturais dos italianos para o país, destacam-se: a introdução de elementos tipicamente italianos no catolicismo de algumas regiões (festas, santos de devoção, práticas religiosas); os diversos pratos incorporados à alimentação brasileira, como o hábito de comer panetone no Natal, a pizza, o espaguete e a polenta frita; o sotaque (principalmente na Região Sul), a introdução de novas técnicas agrícolas; a criação de times de futebol, como o Palestra Itália (atual Sociedade Esportiva Palmeiras), entre outros. Na televisão, a imigração italiana também influenciou obras artísticas, televisivas e cinematográficas, como as novelas Terra Nostra e Esperança, e o filme O quatrilho.

Pizza - um dos legados da cultura italiana no Brasil


c) Alemães


- A imigração e a colonização alemã no Brasil tiveram um importante papel no processo de diversificação da agricultura e da urbanização e industrialização, tendo influenciado, em grande parte, a arquitetura das cidades e a paisagem físico-social brasileira.

- O imigrante alemão difundiu no Brasil a religião protestante e a arquitetura germânica, contribuiu para o desenvolvimento urbano e da agricultura familiar, introduziu o cultivo do trigo e a criação de suínos, além da formação de um campesinato típico, marcado com traços da cultura camponesa da Europa Central. No domínio religioso, contribuiu para a influência de pastores, padres e religiosos descendentes alemães. Várias igrejas luteranas foram implantadas e o ritual católico adquiriu certas especificidades das comunidades alemãs. O Oktoberfest é a principal atividade festiva da cultura alemã no Brasil.

Arquitetura alemã em Guarapuava - PR 


d) Japoneses


- Os imigrantes japoneses aperfeiçoaram as técnicas agrícolas e a pesca dos brasileiros. É notável o seu trabalho na aclimatação e desenvolvimento de vários tipos de frutas e vegetais antes desconhecidos no Brasil, como o caqui, a maçã-Fuji, a mexerica, a poncã e o morango. Os japoneses foram também responsáveis pela expansão da avicultura no país. No esporte, deve-se a influência japonesa o judô, aikidô, jiu-jítsu, caratê, kendo, sumô e o gateball. Na culinária destacam-se a yakisoba, sushi e sashimi.

Bairro da Liberdade em São Paulo - SP. Típico bairro japonês


e) Eslavos


- Os imigrantes eslavos se dedicaram principalmente à agricultura com plantações de milho, feijão, repolho, batata, entre outras culturas. Difundiram o uso do arado e de outras técnicas agrícolas no Paraná. Trouxeram consigo um modelo de carroça tipicamente eslava, utilizada até hoje no Estado paranaense para o transporte de materiais e da produção agrícola.

Casa do Colono Polonês em Curitiba - PR


f) Árabes


- Os árabes foram um dos grupos de imigrantes que menos sofreram para se adaptar ao Brasil. Em sua maioria árabes-cristãos vindos da Síria e do Líbano, os imigrantes não encontraram uma realidade religiosa divergente. Além disso, encontraram no Brasil uma sociedade extremamente miscigenada e acostumada com a diversidade étnica.

- Os árabes, abraçados ao costume da preservação familiar, formaram grandes famílias por todo o Brasil, incluindo-se casamentos dentro da colônia árabe e diversos com não-árabes.

- A leva mais recente de imigrantes sírio-libaneses é, consideravelmente, islâmica, com uma minoria judaica.

Mesquita Omar Ibn Al-Khattab, em Foz do Iguaçu (PR) - cidade que a maior comunidade muçulmana no Brasil


g) Chineses


- Outro grupo de imigrantes que têm entrado com maior frequência nos últimos anos no Brasil, são os imigrantes chineses.

- A cultura chinesa no Brasil se destaca em várias formas. Na arquitetura, a influência chinesa se revela de várias maneiras, como no desenho ornamental e no estilo exterior de algumas construções. Uma delas são as plataformas de pedra, técnica comum na China desde a Antiguidade. Na medicina, a acupuntura, técnica praticada há mais de quatro mil anos na China, é cada vez mais aceita e utilizada no Brasil para tratar doenças diversas e vem se expandindo como prática alternativa ou medicina complementar. A arte marcial chinesa Tai Chi Chuan já virou moda no Brasil.

- A celebração do Ano Novo Chinês, se tornou um evento cultural importante e entrou no calendário oficial da cidade de São Paulo. Tem-se prolongado pelo país os restaurantes chineses, que oferecem os mais variados pratos da cozinha chinesa.

Os restaurantes chineses são exemplos da valorização da cultura chinesa 



3. OS NEGROS AFRICANOS

- A partir do século XVI, com a chegada de negros africanos para servir de mão de obra escrava, amplia-se o processo de miscigenação. Os escravizados foram a principal mão de obra em atividades econômicas do Brasil colonial, colaborando para o desenvolvimento econômico do país.

- Três grandes culturas africanas entraram no Brasil por meio de imigrações forçadas: culturas sudanesas, bantas e guineano-sudanesas islamizadas. Apresentavam diferentes tradições e crenças, o que contribuiu para a formação cultural brasileira.

Rota da escravidão África-Brasil 


A ESCRAVIDÃO


- Assim como os primeiros indígenas, negros africanos introduzidos no Brasil e na América em geral foram submetidos a brutais condições de existência. Arrancados de suas comunidades, de suas famílias e de suas terras, atravessaram o Oceano Atlântico nos sujos porões dos navios negreiros como cargas ou mercadorias de venda e compra.

- Calcula-se que cerca de 10 milhões de negros africanos foram trazidos para a América entre 1502 e 1870, sem considerar os que morreram durante a viagem ou eram mortos durante a resistência ao seu aprisionamento. Desse total, estima-se que mais de 3,5 milhões foram desembarcados no Brasil.

Figura em que um escravo é açoitado 



OS BRASILEIROS NOS CENSOS DO IBGE


- Por meio dos censos realizados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), entre outros aspectos, é possível conhecer a distribuição da população brasileira segundo a cor da pele. As pessoas, quando perguntadas pelos pesquisadores do IBGE que realizam o censo, são livres para autodeclarar sua cor de pele entre cinco opções: branca, preta, parda, amarela e indígena.

- Esse tipo de informação continua sendo levantada em estudos estatísticos não por uma posição racista ou preconceituosa por parte dos institutos de pesquisa, mas para avaliar a condição social das famílias e pessoas segundo a cor, considerando que na nossa história as elites dirigentes, de modo geral, não tiveram preocupações em melhorar as condições de vida de grupos menos favorecidos socialmente, como por exemplo, indígenas e negros. Por isso, essas informações podem dar apoio às políticas públicas que buscam reduzir, de maneira eficaz, as desigualdades sociais no país.

Reflexo das desigualdades: apartamentos luxuosos ao lado de precárias habitações


AS COMUNIDADES DE QUILOMBOLAS


- As comunidades remanescentes de quilombolas são formadas por descendentes de negros africanos escravizados que fugiram das fazendas de açúcar, café, da atividade mineradora e de outras a partir do século XVII. Eles se autodenominam quilombolas.

- Essas comunidades persistiram e são encontradas em praticamente todos os estados brasileiros; durante muito tempo ficaram desconhecidas ou isoladas. Com a Constituição Brasileira de 1988, que concedeu aos quilombolas o direito à propriedade de suas terras e à manutenção de suas culturas, essas comunidades se tornaram mais visíveis à sociedade brasileira.

- Até 2002, haviam sido identificadas 743 comunidades quilombolas no Brasil. Atualmente, devido às iniciativas do governo federal e das comunidades quilombolas em busca de autorreconhecimento, o número de comunidades identificadas supera os 3.500.

- No entanto, devido à demora no processo de reconhecimento oficial e titulação da maior parte delas, existem muitos conflitos entre quilombolas, fazendeiros e posseiros.

Comunidades quilombolas do Brasil 


DESIGUALDADE ENTRE NEGROS E NÃO NEGROS


- Vários estudos comprovam que a população negra, no seu conjunto, possui piores condições de vida em relação a outros grupos de pessoas.

- A expressão mais dramática dessa desigualdade é a incidência da pobreza na população negra: no Brasil, de cada dez pobres, seis são negros. Além disso, os negros recebem cerca de metade dos rendimentos obtidos pelos não negros e apresentam as maiores taxas de desemprego.

- A desigualdade persiste na educação: a taxa de analfabetismo é maior na população negra, grupo que apresenta, em média, dois anos a menos de estudo. Isso significa que, quanto maior o nível de ensino (da educação básica ao ensino superior), menor é a presença de negros.

- No mercado de trabalho, ainda é alta a desigualdade entre negros e não negros, sobretudo em relação às mulheres negras. Elas são as que mais sofrem com a discriminação: apresentam a menor taxa de participação no mercado de trabalho, a menor taxa de ocupação, a maior taxa de desemprego e o menor rendimento.

A população negra é a que mais sofre com o desemprego 


OS MOVIMENTOS DOS AFRO-BRASILEIROS


- Nos últimos anos, os movimentos de luta dos afrodescendentes por igualdade social e melhores condições de vida estão os levando a vencer barreiras sociais e culturais, e a destacar-se em várias atividades. Mostram com isso que não é a cor da pele que determina a capacidade das pessoas.

- Logo após a abolição da escravidão em 1888, surgiram as primeiras organizações formadas por afrodescendentes. Nas décadas de 1960 e 1970, os movimentos em busca de direitos civis para os negros ganharam maior força no Brasil, sob influência dos movimentos negros dos Estados Unidos e pela independência das colônias europeias na África. Na música e na dança, utilizaram de expressões contestatórias, tornaram mais visíveis as injustiças a que são submetidos. O rap (rhythm and poetry: ritmo e poesia), aborda o racismo, a violência policial, as precárias condições de renda e outras temáticas sociais.

Negra Li - cantora Rap do Brasil 


FONTE: Adas, Melhem. Expedições geográficas / Mellhem Adas, Sérgio Adas. -- 1. ed. -- São Paulo: Moderna, 2011.

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